ONU: Gaza tem 17 mil crianças sozinhas e mais de 30 mil mortos
Em uma reunião especial hoje (29/02), em Genebra na Suíça, a ONU divulgou que 17 mil crianças estão sozinhas, sem pais ou responsáveis em Gaza. Elas perderam seus pais nos bombardeios ou foram separadas dos seus responsáveis. A reunião ocorreu no mesmo dia que o número de mortos em Gaza ultrapassou 30 mil pessoas.
Em uma reunião especial hoje (29/02), em Genebra na Suíça, a ONU divulgou que 17 mil crianças estão sozinhas, sem pais ou responsáveis em Gaza. Elas perderam seus pais nos bombardeios ou foram separadas dos seus responsáveis.
A reunião ocorreu no mesmo dia que o número de mortos em Gaza ultrapassou 30 mil pessoas. Em um discurso no Conselho de Direitos Humanos da ONU, o alto comissário da entidade, Volker Turk, foi contundente sobre a dimensão da crise. Segundo ele, “parece não existir palavra para capturar o horror” visto em Gaza.
De acordo com a ONU, desde o início de outubro, mais de 100 mil pessoas foram mortas ou feridas. “Cerca de uma em cada 20 crianças, mulheres e homens estão mortos ou feridos”, disse Turk.
“Pelo menos 17 mil crianças ficaram órfãs ou foram separadas de suas famílias, e muitas outras carregarão as cicatrizes do trauma físico e emocional por toda a vida”, alertou.
“Dezenas de milhares de pessoas estão desaparecidas, muitas delas supostamente enterradas sob os escombros de suas casas”, disse.
A ONU qualificou os ataques do Hamas contra os israelenses de “chocantes”, “profundamente traumatizantes e totalmente injustificáveis”. “A matança de civis, os relatos de tortura e violência sexual infligidos pelo Hamas e por outros grupos armados palestinos e a manutenção de reféns desde aquela época são terríveis e totalmente errados”, disse.
Segundo Turk, o mesmo acontece com a brutalidade da resposta israelense. “O nível sem precedentes de mortes e mutilações de civis em Gaza, incluindo funcionários da ONU e jornalistas, a crise humanitária catastrófica causada pelas restrições à ajuda humanitária, o deslocamento de pelo menos três quartos da população, muitas vezes várias vezes, a destruição maciça de hospitais e outras infraestruturas civis e, em muitos casos, a demolição sistemática de bairros inteiros, tornando Gaza praticamente inabitável”, constatou.
Pela primeira vez desde o início da guerra em Gaza, a ONU ainda abriu uma brecha para considerar as ações israelenses como crimes passíveis de serem julgados por cortes internacionais.
Turk ainda afirmou que a guerra em Gaza precisa acabar. Todas as partes cometeram violações claras dos direitos humanos internacionais e das leis humanitárias, incluindo crimes de guerra e possivelmente outros crimes de acordo com a lei internacional. Chegou a hora – e já passou da hora – da paz, investigação e responsabilização.
Ele ainda acusou Israel de promover violações profundas contra os palestinos. Explicou que em 56 anos de ocupação israelense, sistemas de controle profundamente discriminatórios foram impostos aos palestinos para restringir seus direitos, inclusive o direito de locomoção, com grande impacto sobre sua igualdade, moradia, saúde, trabalho, educação e vida familiar.
“Um bloqueio de 16 anos na Faixa de Gaza manteve a maioria de seus 2,2 milhões de habitantes em cativeiro e destruiu a economia local. As vidas de gerações de palestinos na Cisjordânia foram marcadas por assédio, controle, arbitrariedade -inclusive prisões e detenções arbitrárias – e aumento da violência militar e dos colonos israelenses”, afirmou. “Enquanto isso, os assentamentos ilegais continuaram a crescer, levando, de fato, a uma maior anexação das terras dos palestinos. Imagine a humilhação e a repressão intermináveis sofridas”, completou.
Segundo ele, essa situação é “incomparavelmente pior”. A ONU ainda acusou de Israel de lançar “milhares de toneladas de munição em Gaza” e armas que “emitem uma onda de explosão maciça de alta pressão que pode romper órgãos internos, bem como projéteis de fragmentação e calor tão intenso que causam queimaduras profundas – e elas têm sido usadas em bairros residenciais densamente povoados”.
De acordo com Turk, nos últimos cinco meses de guerra, a ONU “registrou muitos incidentes que podem ser considerados crimes de guerra pelas forças israelenses, bem como indícios de que as forças israelenses se envolveram em alvos indiscriminados ou desproporcionais que violam o direito internacional humanitário”.
Mas ele também atacou o Hamas. “O lançamento de projéteis indiscriminados por grupos armados palestinos no sul de Israel, até Tel Aviv, também viola o direito humanitário internacional, assim como a manutenção de reféns”, explicou.
A ONU ainda acusou Israel de “impedir a assistência humanitária” à população palestina.
“Toda a população de Gaza está correndo risco iminente de fome. Quase todos estão bebendo água salgada e contaminada. O sistema de saúde em todo o território mal está funcionando. Imagine o que isso significa para os feridos e para as pessoas que estão sofrendo com surtos de doenças infecciosas”, disse.
No norte de Gaza, onde o espaço operacional para o trabalho humanitário foi extinto, a ONU acredita que muitos já estejam morrendo de fome.
Na avaliação da ONU, o bloqueio e o cerco impostos a Gaza equivalem a punição coletiva e também podem equivaler ao uso da fome como método de guerra – ambos, cometidos intencionalmente, são crimes de guerra.
Para a ONU, apenas haverá paz com o fim da ocupação de terras palestinas. “Os líderes israelenses devem aceitar o direito dos palestinos de viver em um Estado independente. E todas as facções palestinas devem reconhecer o direito de Israel de existir em paz e segurança”, disse.
Fonte: UOL