Pandemia pode causar mais mortes por Aids, tuberculose e malária
Estudo mostra que países de baixa e média renda podem ver um aumento nas mortes por essas doenças como consequência das medidas tomadas para controlar pandemia de Covid-19
Por: Júlia Pereira
Países de baixa e média renda podem sofrer um aumento no número de mortes por Aids, tuberculose e malária como resultado das medidas tomadas para conter a pandemia de Covid-19.
É o que mostra um estudo publicado no periódico Lancet Global Health, assinado por pesquisadores do Conselho de Pesquisa Médica do Centro para Análise de Doenças Infecciosas Globais, do Instituto Abdul Latif Jameel e do Imperial College de Londres, todos no Reino Unido. Os países considerados na pesquisa não foram revelados.
A pesquisa foi financiada pela Fundação Bill & Melinda Gates, pelo instituto de apoio à pesquisa britânico Wellcome Trust, pelo Departamento de Desenvolvimento Internacional do Reino Unido e pelo Conselho de Pesquisa Médica.
No pior cenário simulado por pesquisadores em modelos matemáticos, pode haver, nos próximos cinco anos, um aumento em número de óbitos de 10% pela Aids, 20% por tuberculose e 36% por malária.
O tratamento dessas doenças está sendo afetado neste momento pelo esgotamento dos sistemas de saúde já frágeis e pelas medidas de isolamento que afetam rotinas de cuidado.
O impacto da pandemia nesse sentido varia de acordo com a extensão em que as intervenções contra o coronavírus precisam durar, causando longas interrupções nas atividades.
Os pesquisadores também fizeram modelos considerando anos de vida perdidos, ou seja, a expectativa de vida de uma pessoa subtraída por uma causa de mortalidade particular.
O resultado mostra que a perspectiva de mortes e anos de vida perdidos por Aids, tuberculose e malária nos próximos cinco anos é menor que a da Covid-19, mas de “magnitude similar”.
Por fim, os pesquisadores alertam que prever o futuro e as consequências do novo coronavírus em outras doenças com precisão é algo incerto, mas os estudos visam quantificar o potencial da Covid-19 de afetar outras infecções, além de oferecer informações para que esta perspectiva preocupante possa ser evitada ou minimizada hoje.
Para isso, os autores reforçam a importância da manutenção dos principais serviços referentes à Aids, tuberculose e malária.
Em relação à Aids, os pesquisadores preveem que o maior impacto se dê em problemas no fornecimento do coquetel antirretroviral. Por isso, sugerem prescrições de medicamentos com maior duração e entregas em domicílio.
Para a tuberculose, o risco é de que o diagnóstico e o tratamento deixem de ser feitos no tempo adequado. Já para a malária, são previstos problemas nas medidas de combate aos mosquitos.
Como a pesquisa foi feita
O trabalho considerou um número reprodutivo básico (R0; o número médio de pessoas que cada indivíduo com o vírus provavelmente infectaria) do novo coronavírus de 3.
Com modelos matemáticos, os cientistas simularam quatro cenários, de acordo com respostas políticas diferentes à pandemia:
1- Nenhuma ação;
2- Mitigação;
3- Supressão aumentada;
4- Supressão (algo como um lockdown mais rigoroso).
Os dados obtidos foram combinados com modelos de transmissão do HIV, tuberculose e malária.
Os piores resultados para a Aids foram encontrados no cenário de nenhuma ação ou supressão aumentada; para a tuberculose, no cenário de supressão; e para a malária, em todos os cenários com exceção da supressão.
Fonte: BBC News Brasil