Para cada não negro morto em 2018, 2,7 negros foram assassinados
De acordo com o Atlas da Violência 2020, enquanto assassinatos de brancos caem, os de negros aumentam. Negros representam 55,8% da população brasileira e são 75,7% das vítimas de homicídio
Por: Mariana Lima
De acordo com o Atlas da Violência 2020, os assassinatos no Brasil diminuíram apenas para uma parcela da população. No total, a taxa de homicídios de negros no país cresceu 11,5% entre 2008 e 2018 – indo de 34 para 37,8 por 100 mil habitantes).
Em oposição a este cenário, a taxa de homicídios entre os não negros caiu 12,9% no mesmo período – de 15,9 para 13,9 por 100 mil habitantes. O padrão também se repete no recorte de gênero: o assassinato de mulheres negras cresceu, e o de brancas caiu.
No quadro geral, o número de homicídios caiu em 2018 no país, ano em que foram registrados 57.956 casos. O número corresponde a uma taxa de 27,8 mortes por 100 mil habitantes.
A taxa registrada é a menor em quatro anos, representando uma queda de 12% em relação ao ano anterior. A diminuição foi observada em todas as regiões e em 24 estados, com maior intensidade na região Nordeste.
Entre 2008 a 2018, foram registrados 628 mil homicídios no país. O perfil das vitimas eram homens (91%), entre 15 e 29 anos (55%), com pico de mortos aos 21 anos de idade. De acordo com a verificação promovida pelo Atlas, as vitimas tinham no máximo sete anos de estudos.
Vale ressaltar que os negros representaram 75,7% do total de vítimas, embora representem 55,8% da população do país. Ao considerar o índice de homicídios por 100 mil habitantes de cada grupo, a discrepância entre as raças significa que, na prática, para cada indivíduo branco morto naquele ano, 2,7 negros foram assassinados.
Alguns estados apresentam uma discrepância ainda maior: em Alagoas, por exemplo, para cada não negro vitima de homicídio, morreram 17 negros. Os dados ainda indicam que os dias de maior incidência dos crimes foram sábados e domingos.
O levantamento indica uma melhora lenta e gradual nos índices de homens jovens, considerando todas as raças.
Passos lentos
Em cinco anos (de 2013 a 2018), a taxa nacional de homicídios de jovens homens cresceu 2,5%, o que sugere um aumento menos acelerado em comparação ao período de 2008 a 2018, quando a variação registrada foi de 13,5%.
Vale apontar que entre 2017 e 2018 o índice caiu 14%, o que, de acordo com o estudo, não é o suficiente para que se possa afirmar uma reversão neste quadro histórico.
Origem dos dados
O estudo foi elaborado pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) com dados do Sistema de Informação sobre Mortalidade, do Ministério da Saúde.
Os negros são representados pela soma de pretos e pardos, enquanto os não negros são os brancos, amarelos e indígenas, segundo a classificação praticada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Fonte: Folha de S.Paulo