Para o cérebro, esquecer um amor é como tentar se livrar de um vício
Terminar um relacionamento amoroso sem que nenhuma das partes sofra é quase impossível. Todos nós já sofremos ou conhecemos alguém que sofre ou sofreu por amor.
Um estudo publicado no Journal of Neurophysiology concluiu que, para o cérebro, esquecer um grande amor é como tentar se livrar de um vício. A pesquisa foi coordenada por Helen Fisher de Rutgers, da Universidade Estadual de New Jersey, e Lucy L. Brown, do Einstein College of Medicina da Universidade Yeshivano, Bronx, New York.
As novas descobertas trazidas pelo estudo podem ajudar a entender por que os sentimentos relacionados à rejeição romântica podem chegar a extremos como assédio, homicídio e suicídio, como ocorre em muitos casos em todo mundo.
A psicóloga Mariana Nunes explica por que o fim de um relacionamento pode chegar a extremos: “O sofrimento pelo fim de uma relação pode gerar sofrimento em qualquer pessoa, mas o tempo e a intensidade serão diferentes para cada um. Porém, algumas pessoas perdem os limites que deveriam permear sua relação e não conseguem mais distinguir o que é seu e o que é do outro, acontece uma espécie de fusão e a pessoa se torna dependente do amado. Nesses casos, o rompimento do relacionamento será vivido com extremo sofrimento e dificuldade”.
No estudo, pesquisadores usaram a ressonância magnética funcional para registar atividade cerebral em 15 pessoas de ambos os sexos que foram rejeitadas por seus parceiros e relataram que ainda estavam extremamente apaixonadas.
Todos os participantes visualizaram uma fotografia de seus antigos parceiros e em seguida resolveram um simples exercício de matemática. No final, eles visualizavam a fotografia de uma pessoa da família.
Os pesquisadores descobriram que olhar fotografias de parceiros anteriores dos participantes estimulava várias áreas-chave do cérebro dos participantes, mais do que ver fotos de pessoas neutras. As áreas são: a área tegmental ventral no meio do cérebro, que controla a motivação e a recompensa e é conhecida por estar envolvida em sentimentos de amor romântico; o núcleo accumbens e o córtex orbitofrontal/pré-frontal, que estão associados ao desejo e ao vício, especificamente o sistema de recompensa dopaminérgico evidente no vício da cocaína; e o córtex insular e o cingulado anterior, que estão associados à dor física e ao sofrimento.
Todos os participantes disseram que gastaram mais de 85% de suas horas de vigília pensando na pessoa que os rejeitou e desejavam reatar o relacionamento.
Mariana explica que o sofrimento dessas pessoas pode ser comparado a um luto. “O término de um relacionamento é uma perda, e como tal pode ser elaborada através do luto. Ao contrário do que se pode pensar, o luto não é vivido apenas quando ocorre a morte física, mas pode ocorrer em qualquer situação de perda. O processo de luto leva algum tempo, que não é preestabelecido, sendo diferente para cada um”.
A psicóloga alerta que algumas pessoas precisam procurar ajuda, grupos como o MADA (Mulheres que Amam Demais) dão apoio às pessoas que sofrem por amor. Apoio de profissionais também é importante. “Vale ressaltar que, mesmo não havendo um padrão de comportamento único, nos casos que o sofrimento pelo fim de um relacionamento é exacerbado e afeta outras dimensões da vida do indivíduo, o mesmo deve procurar ajuda profissional”, finaliza a psicóloga.