Paulistano dá nota 5,1 para qualidade de vida na cidade
Por Sueli Melo
Foi lançada nesta quinta-feira, 22, a 6ª edição da pesquisa IRBEM (Indicadores de Referência de Bem-Estar no Município). O evento, que ocorreu no Teatro Raul Cortez, foi promovido pela Rede Nossa São Paulo e pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo – FecomercioSP. A pesquisa de percepção revelou o nível de satisfação dos moradores da capital paulista com relação à qualidade de vida e o bem-estar na cidade, além da avaliação sobre o trabalho das instituições. Pela primeira vez perguntas sobre a crise hídrica em São Paulo entraram na pesquisa. A maioria dos entrevistados aponta a falta de planejamento do Governo do Estado e da Sabesp como principais responsáveis pela crise.
A pesquisa realizada pelo Ibope entrevistou 1.512 paulistanos com 16 anos de idade ou mais, entre os dias 24 de novembro e 8 de dezembro. São abordadas na IRBEM 25 áreas – tanto de aspectos subjetivos quanto objetivos da vida dos entrevistados – subdivididas em 169 itens avaliados. A pesquisa apresentou ainda, pelo oitavo ano seguido, a avaliação dos moradores da cidade sobre as instituições (Prefeitura, Câmara Municipal, Polícia Militar, Tribunal de Contas, Poder Judiciário etc.) e os serviços públicos.
Confira os resultados
O Índice de bem estar e qualidade de vida da cidade de São Paulo, nesta 6ª edição da pesquisa, teve média 5,1. Em 2013 o número ficou na casa do 4,8.
Cada item do nível de satisfação recebeu do entrevistado uma nota de 1 a 10. A média, portanto, é 5,5. Das 25 áreas avaliadas, somente quatro ficaram acima da média da escala. São elas: Relações Humanas (6,1), em que foram avaliados itens como relação com a família e respeito aos direitos humanos; Religião e Espiritualidade (5,9), a percepção sobre prática religiosa e convivência harmoniosa entre as diferentes religiões; Trabalho (5,8), a avaliação sobre perspectiva de futuro e renda, por exemplo; e Tecnologia da Informação (5,7), item no qual o acesso ao uso de internet e disponibilidade e agendamento de consultas médicas pela internet foram avaliados, entre outros.
As demais áreas ficaram abaixo da média na avaliação dos moradores da capital paulista. As quatro áreas que tiveram pior avaliação foram Acessibilidade para pessoas com deficiência, que recebeu nota 3,9; Desigualdade social e Segurança, ambos aparecem com 3,8; e Transparência e participação política com o menor índice de satisfação, apenas 3,1.
A crise da água foi pautada pela primeira vez na pesquisa e 42% dos entrevistados acreditam que o problema decorreu da falta de planejamento do Governo do Estado/governador, 29% dizem que a crise vem da ausência de chuvas e 15% apontam a falta de planejamento da Sabesp. Já em relação à crise no abastecimento de água na cidade, 61% das pessoas culpam a Sabesp. Outros 30% atribuem a responsabilidade pelo gargalo no Governo do Estado. E ainda, 82% acreditam no risco de ficar sem água nos próximos meses. Outro dado aponta que 68% dos que responderam a pesquisa tiveram problemas no abastecimento nos últimos 30 dias. Em relação ao quesito confiança, 62% confiam na Sabesp hoje, em 2013 esse percentual era de 82%.
Para Oded Grajew, coordenador geral da Rede Nossa São Paulo, esta questão da água é dramática e pode afetar drasticamente a qualidade de vida de todos. “É mais do que necessário que se tome consciência da gravidade desta situação e que possamos nos juntar ao poder público, à sociedade – acima de diferenças políticas, eleitorais, ideológicas para acharmos soluções e outra maneira de nos relacionar com os recursos naturais a começar pela água”, afirmou “É um momento critico na nossa história, da cidade de São Paulo e do Brasil, que detém a maior reserva de água doce do mundo e mesmo assim passa por falta de água. Ao mesmo tempo em que temos uma crise tremenda pela frente, há uma enorme oportunidade de darmos a volta por cima. Mas é preciso agir conjuntamente”, ressaltou.
O professor titular de ética e filosofia política da USP, Renato Janine Ribeiro, fez um alerta. “Estamos a menos de seis meses de acabar a água do Cantareira. Significa que se não chover nos próximos 60 dias toda a zona norte de São Paulo terá de ser praticamente abandonada pela população, será inabitável”, destacou. “E não há uma discussão pública de como vai ser isso nem como vai ser a economia, a saúde, a segurança para esses habitantes paulistanos que são abastecidos pelo Cantareira. Sobre esse assunto há um silêncio total e deveria estar sendo discutido”, criticou o professor.
Para além das questões colocadas para o poder publico municipal, estadual federal, ponderou Ribeiro, “a partir desta pesquisa há um desafio colocado para nós que estudamos o assunto, para os que atuam em entidades públicas, a mídia – que é colocar o foco mais forte nessa questão.”
Para o prefeito Fernando Haddad, que esteve presente no evento, este é um momento “que terá que ter interação diária, semanal para acompanhar passo a passo a evolução do processo, até para orientar a população de como agir, como proceder diante do problema”. O prefeito afirmou que já se colocou à disposição do novo secretário de Recursos Hídricos de São Paulo, Benedito Braga, para discutir o assunto.
No caso das instituições avaliadas, o Corpo de Bombeiros, os Correios e o Metrô, respectivamente aparecem no topo do ranking de maior confiança da população. Já sobre a Câmara Municipal, 55% têm percepção “ruim” ou “péssima”. Da mesma forma, 40% dos entrevistados avaliam a Prefeitura, sob o comando de Fernando Haddad (PT), como “ruim” ou “péssima” e 15% a avaliaram como “ótima” ou “boa”, em 2013 esse número era de 11%.
Segundo Haddad, essa percepção pode estar ligada a sua escolha de direcionar as energias de seus dois primeiros anos à frente da Prefeitura em projetos de longo prazo, como o pagamento da dívida da Prefeitura – de administrações anteriores – com a União, o convênio com as obras do PAC e o Plano Diretor de São Paulo. “São projetos de longo prazo não dão resultado do ponto de vista de prestígio. Mas esses projetos estruturam um tripé para o desenvolvimento e para que as futuras administrações possam ir colhendo os frutos deste investimento”.
Obras urbanas, afirma o prefeito, não trazem só benefícios para a população. “Incomoda mudar a cidade. É uma ação que traz desconforto para as pessoas. Isso vale para uma ciclovia na Paulista, para uma duplicação de avenida ou para um piscinão”, pontua Haddad. “Qualquer intervenção urbana que modifique a rotina da cidade é traumática e a impressão do cidadão é a de que a vida dele piorou”, justificou.
Haddad disse ainda que as pessoas atribuem muito mais responsabilidades à Prefeitura do que realmente ela tem. “A quantidade de pessoas que acha que a Prefeitura é responsável pelo abastecimento de água é muito maior do que supomos”, afirmou. “É uma questão de educação cívica – saber quem é o responsável pelo quê.”
Em relação à segurança, apenas 10% acham a cidade “muito segura”. 57% dos paulistanos responderam que gostariam de deixar a cidade. A violência em geral é o principal item, segundo 67% dos entrevistados, que contribui para a percepção de insegurança. Houve melhora, em 2008 esse percentual era de 78%. Quando perguntados sobre as ações e medidas importantes para diminuir a violência na cidade, 25% acreditam que uma das maneiras é “investir em educação e qualidade para jovens de baixa renda”. Em 2008 este item foi a resposta apenas 8% dos entrevistados.
Em outro resultado, 11% acreditam que o Governo Federal é a instituição que mais contribui para melhorar a qualidade de vida da população, 9% apontam que essa contribuição vem da Igreja e 8% dizem que ela vem dos meios de comunicação. No quesito saúde, o tempo de espera para consultas na rede pública caiu de sessenta dias em 2013 para 56 no ano passado. Já em relação aos exames, a espera passou de 79 dias para 78. No sistema privado de saúde, por outro lado, a espera para realização de consultas aumentou de uma semana para treze dias e de dezenove para 42 dias, nos casos de procedimentos mais complexos.
Mais de 2/3 da população utilizam diariamente ônibus como meio de transporte. Na avaliação dos entrevistados, a média de espera nos pontos, que era de 25 minutos em 2013, caiu para 20 minutos no ano passado.
Para Ribeiro, que fez um balanço dos resultados da pesquisa, “a situação é preocupante. Há avanços, é inegável, no transporte público coletivo, em cultura, esporte – atividades que para mim são caras, para o desenvolvimento da sociedade”, afirmou o professor, que defende que deveria haver três ministérios chave: cultura, atividade física e meio ambiente.
Na questão da pesquisa, especificamente, analisou, é preciso ressaltar que a maior insatisfação é com a política. “Se temos notas tão ruins nestas áreas, isso parece de certa forma determinar o restante.”
Nas palavras do professor, “a ideia presente no mundo anglo-saxônico é a de que vícios privados podem conviver com virtudes ou benefícios públicos. Nós temos praticamente o contrario no Brasil. O elogio que nós temos constantemente é da virtude privada, mas que é totalmente infecunda e estéril quando ela se transfere para a esfera pública”, criticou. “Vamos então fazer com que cada um de nós consiga resolver as coisas da melhor forma possível.”
Para ver o estudo completo, acesse o link: http://www.nossasaopaulo.org.