Pesquisa aponta que 81% dos brasileiros reconhecem que o país é racista
A pesquisa “Percepções sobre o racismo no Brasil”, realizada pelo Instituto Peregum junto com o Projeto Seta, mostrou que 44% da sociedade brasileira reconhece que raça, cor e etnia como os principais fatores geradores de desigualdades no país, e mais da metade (51%) já presenciou alguma situação de racismo.
Por Laura Leite
No final dia 25 de julho, data em que é comemorado o Dia da Mulher Negra, Latino-Americana e Caribenha, o Instituto de Referência Negra Peregum e o Projeto SETA (Sistema de Educação por uma Transformação Antirracista) lançaram a pesquisa “Percepções sobre o racismo no Brasil”. O estudo deixa evidente que a democracia racial não é mais uma crença hegemônica no país.
Acesse a pesquisa aqui.
A análise encomendada pelas organizações foi realizada pelo Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica (IPEC), e contou com a participação de 2 mil pessoas com idade entre 16 a 34 anos a fim de entender a opinião da população brasileira relativa à percepção sobre racismo. Os números são contundentes, 44% da sociedade brasileira reconhece que raça, cor e etnia como os principais fatores geradores de desigualdades no país, e mais da metade (51%) já presenciou alguma situação de racismo.
O estudo de abrangência nacional foi realizado em 127 municípios brasileiros das cinco regiões do país durante o mês de abril de 2023.
O Instituto de Referência Negra Peregum destaca a importância do uso de dados para a compreensão da sociedade brasileira e para a construção de políticas públicas eficazes. Para Vanessa Nascimento, diretora executiva do Instituto, a falta de informações precisas e atualizadas de dados que norteiam as políticas públicas ainda é um problema crônico no Brasil: “Nesse contexto, uma pesquisa como a que estamos lançando é de fundamental importância prática e simbólica. Os dados aqui reunidos certamente apoiarão as ações de incidência política, subsidiarão as articulações da sociedade entre seus pares e com o poder público, como para ações específicas para mulheres negras”.
A pesquisa realizada em todo território nacional revela contradições na percepção da população brasileira perante as manifestações do racismo, como também, uma ausência de compreensão das diversas ramificações do racismo em nossa estrutura social. Segundo o estudo, a principal forma de identificação da manifestação do racismo pela população brasileira é a violência verbal, como xingamentos e ofensas (66%), seguida de tratamento desigual (42%) e violência física, como agressões (39%).
O racismo praticado nas relações interpessoais é identificado como a principal forma de descriminação, contudo, ainda assim, o brasileiro parte de uma negação da existência de práticas racistas com pessoas próximas e em espaços de convívio cotidiano. 81% concordam totalmente ou em parte que o Brasil é um país racista, mas apenas 11% afirmam que têm atitudes ou práticas racistas, 10% que trabalham em instituições racistas, 13% que estudam em instituições educacionais racistas, 12% que sua família é racista, 36% que convivem com pessoas que têm atitudes racistas e 46% que convivem com pessoas que sofrem racismo.
O Instituto de Referência Negra Peregum é uma organização sem fins lucrativos, criado em 2019, por militantes da educação popular; sua missão é fortalecer a população negra e periférica, com e a partir dos movimentos negros, trazendo para a centralidade dos debates e das práticas sociais demandas específicas e urgentes, de maneira a transformar as políticas públicas e as pessoas no sentido de uma sociedade antirracista.
Este estudo está alinhado aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda de 2030 da ONU, sendo os ODS 4, 5 e 16, educação de qualidade, igualdade de gênero e paz, justiça e instituições efetivas.