Pesquisa revela que 60% dos alimentos ultraprocessados têm agrotóxicos
Pesquisa feita pelo Idec detectou pesticidas em produtos como bisnaguinha, biscoitos e bebidas lácteas, comuns nos lanches de crianças. Um dos agrotóxicos é considerado potencialmente cancerígeno
Por: Mariana Lima
A pesquisa ‘Tem veneno nesse pacote’, realizada pelo Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec), mostra que há agrotóxicos em alimentos que pouca gente imagina, como cereais matinais, biscoitos, bebidas lácteas e pães.
De acordo com a pesquisa, 59% dos produtos ultraprocessados mais consumidos no país tinham resíduos de agrotóxicos. Foram testados 27 produtos, divididos em 8 categorias de alimentos e bebidas.
Todos os que tinham trigo em sua composição apresentaram resíduos de algum agrotóxico. Em 51,8% foi possível verificar a presença de glifosato, considerado potencialmente cancerígeno, ou glufosinato, herbicida relacionado à má formação embrionária e a problemas no sistema nervoso central em ratos.
Os produtos campeões de agrotóxicos foram o biscoito de água e sal Vitarella Tradicional e Bisnaguinhas Originais, que apresentaram resíduos de nove venenos cada, além do butóxido de piperonila, ingrediente potencializador dos princípios ativos dos agrotóxicos.
Apesar do alto número de pesticidas em alimentos – muitos deles consumidos por crianças –, ainda não há padrões claros do limite permitido.
No caso de cenouras ou laranjas, existe um parâmetro: o chamado limite máximo de resíduos (LMR), definido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
Já com os ultraprocessados – produtos vendidos como alimentos, mas que são formulações industriais cheias de aditivos e de substâncias em excesso, como aromatizantes, gorduras, açúcar e sódio –, algo semelhante não existe, o que acaba dificultando a fiscalização e a responsabilização das empresas que os produzem.
Sem uma regulamentação específica para os alimentos ultraprocessados, abre-se margem para que os fabricantes justifiquem, com regras próprias, que seus produtos são seguros. Os argumentos se baseiam no LMR dos alimentos in natura usados nos produtos, como o trigo presente nos biscoitos e nas bisnaguinhas.
A Anvisa alega que se os produtos tiverem seus alimentos in natura com quantidades de agrotóxicos dentro dos limites definidos por ela, há segurança para o consumidor. Contudo, pesquisadores discordam de que haja limites seguros de pesticidas em alimentos.
Um estudo divulgado em 2019 mostrou que não há dose segura de agrotóxicos, sendo extremamente tóxicos ao meio ambiente e à vida em qualquer concentração.
Vale lembrar que os alimentos ultraprocessados têm ganhado cada vez mais espaço na mesa dos brasileiros. De acordo com a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) do IBGE, nos últimos 15 anos, houve um aumento de 56% do consumo desses produtos. A cada 100 kg de alimentos, um brasileiro médio consome 18 kg de ultraprocessados.
O crescimento do consumo desses alimentos está diretamente relacionado ao aumento de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, pressão alta e até alguns tipos de câncer, principais causas de mortes entre os brasileiros.
Confira a pesquisa completa do Idec aqui.
Fonte: Repórter Brasil