Plataforma usa dados para mapear desigualdade racial
Renda média de domicílios chefiados por mulheres negras é 42% o valor dos liderados por homens brancos; cruzamento de dados evidencia desigualdade racial
Por Julia Bonin
Em 2010, o número de negros que viviam em regiões periféricas era mais do que o dobro dos habitantes brancos. Entre os que viviam nas periferias, 5,9% das mulheres negras tinham acesso ao ensino superior, em comparação a 11,5% das mulheres brancas. Os dados foram obtidos por meio da plataforma Cedra, que cruza informações do Censo de 2010, o mais recente, e da PNAD Contínua, ambos realizados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. A iniciativa procura combater o racismo por meio do fornecimento de um panorama geral das desigualdades raciais no Brasil.
A ferramenta permite que sejam feitas novas leituras sobre os dados obtidos pelo IBGE nos 57 milhões de lares, com intersecções entre gênero, raça, classe, escolaridade, empregabilidade, entre outras variáveis, além de traduzir as informações para uma linguagem acessível e descomplicada. Dessa forma, as informações podem estimular a formulação de novas políticas públicas e qualificar o debate acerca de opressões raciais na sociedade.
O programa está sendo aperfeiçoado para, ao longo deste ano, incorporar informações de bancos de dados do Sistema Único de Saúde (SUS), do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e estatísticas oficiais sobre violência, além de dados do novo Censo, iniciado em 2022.
“A inclusão desses novos bancos de dados permitirá, por exemplo, conhecer a incidência de mortes violentas em domicílios cujas mulheres negras são as responsáveis”, afirma Eduardo Nunes Pereira, ex-presidente do IBGE e criador do Cedra, em entrevista à FAPESP.
O Cedra é uma instituição independente e apartidária, criada por especialistas em ciências de dados e pensadores da questão racial. Eles se uniram para destacar, das estatísticas oficiais, dados que possibilitem o aprofundamento das análises sobre a desigualdade racial no Brasil. A criação da plataforma de dados visa os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável de números 1, 4 e 10, que correspondem a erradicação da pobreza, educação de qualidade e redução das desigualdades.