Podcast Aqui se Faz, Aqui se Doa discute o racismo no terceiro setor
Em conversa do podcast do Instituto Mol, Giovanni Harvey, do Fundo Baobá, investiga a permanência do preconceito nas práticas filantrópicas
Por Redação
Se a sociedade brasileira é conhecidamente racista, o que dizer do setor social? Quais práticas contribuem para quebrar padrões e quais trabalham justamente para manter tudo do mesmo jeito? Esse foi o tema do episódio 88 do Aqui se Faz, Aqui se Doa, podcast produzido pelo Instituto MOL com apoio do Movimento Bem Maior.
A provocação para essa conversa surgiu de uma postagem no Linkedin da Natália Bovolenta, que é especialista em diversidade e inclusão. Ela escreveu um texto bastante crítico, afirmando que o terceiro setor é um dos locais mais atrasados em questão de políticas ligadas à diversidade. “Como as pessoas brancas estão envolvidas em causas raciais e acham que estão fazendo o bem, se elas cometem uma atitude racista e você pontua isso, elas vão falar que não são racistas. Elas vão se valer do projeto social que fazem, ‘ah eu nem sou racista, eu trabalho com o terceiro setor’. Isso não tem nada a ver uma coisa com a outra”, afirma Natália.
Segundo levantamento da Associação Brasileira de ONGS (Abong), cerca de 46% das pessoas que trabalham em ONGs brasileiras são pretas e pardas. As pessoas pretas recebem em média 27% menos que as brancas no terceiro setor. A presença de pessoas brancas nos cargos de diretores é 34,18% maior do que a de negras.
“Quando nós falamos em termos de enfrentamento à discriminação e ao racismo, dependendo da característica da instituição ou da iniciativa que esteja no campo de terceiro setor, nós vamos ter formas de enfrentamento ao racismo diferentes”, afirma Giovanni Harvey, diretor-executivo do Fundo Baobá para a Equidade Racial.
Para Harvey, é preciso ter clareza sobre o trabalho que se executa em uma iniciativa social, que pode tangenciar questões raciais sem necessariamente contribuir para a sua mudança.
“O enfrentamento ao racismo não se identifica pela pessoa que é atendida e sim pela causa que está levando aquela pessoa ser atendida. Isso é importante de se entender porque muitas pessoas falam: ‘Ah, eu estou fazendo enfrentamento ao racismo, porque das 100 pessoas que a minha instituição atende, 90 pessoas são negras’. Não, não tá fazendo. A não ser que você tenha diagnosticado que aquele contingente de pessoas é alvo de discriminação e tenha qualificado que discriminação que aquela pessoa está sendo alvo e tenha uma formulação de uma ação para diminuir o efeito daquela discriminação”, esclarece.
Para ouvir ao episódio completo, acesse: https://open.spotify.com/episode/631QJgc3GXcBUJLtuDzeCS
Com intuito de promover o acesso à informações sobre o universo das organizações e iniciativas sociais, o Observatório do Terceiro Setor está apoiando a divulgação do podcast “Aqui se Faz, Aqui se Doa”, uma produção do Instituto MOL, com apoio do Movimento Bem Maior. Publicado quinzenalmente, às terças-feiras, o programa é apresentado pelos empreendedores sociais Roberta Faria e Artur Louback, sempre com boas conversas do universo da cultura de doação.
O Instituto MOL, braço social da Editora MOL, busca incentivar a cultura da doação entre empresas e sociedade. A organização está alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, um conjunto de metas que visam uma sociedade mais justa e sustentável.