Projeto de estudantes da USP utiliza caixas de leite para revestir moradias
Iniciativa de estudantes da USP buscou meios sustentáveis para auxiliar famílias que residem em moradias precárias. Embalagens longa vida ajudam a fechar frestas para evitar entrada de vento, chuva e insetos, e ainda melhoram a temperatura dentro das casas
Por: Mariana Lima
Ao visitarem a comunidade Capão das Antas, localizada em São Carlos, no interior paulista, alguns estudantes da USP notaram que as moradias, geralmente feitas de placas de madeira, tinham muitas frestas por onde entravam vento, chuva e até insetos.
Observando a gravidade do cenário, o grupo resolveu, então, pesquisar soluções sustentáveis para resolver o problema e levar conforto àquelas famílias.
Em sua busca, os alunos descobriram uma iniciativa que usava placas feitas pela junção de embalagens longa vida para reforçar o revestimento interno de casas no sul do país e protegê-las do frio. Assim, resolveram adaptar a inciativa para a região.
As chamadas embalagens longa vida ou cartonadas, frequentemente usadas para a comercialização de leite e outros produtos, são constituídas por camadas de papel cartão, polietileno e alumínio.
Juntos, os materiais criam uma estrutura resistente e uma barreira eficaz contra a entrada de luz, ar, água e microrganismos externos.
Mas o projeto mostra que essas vantagens não se restringem a beneficiar os alimentos guardados nessas embalagens.
De acordo com a análise do grupo, a estrutura de papel cartão garante um revestimento sólido sem deformar. Já as várias camadas de plástico impermeabilizam, permitindo resolver problemas de goteira e da entrada de chuva e vento pelas frestas, enquanto o efeito térmico vem das camadas de alumínio.
Foi com esse recurso em mente que o grupo de alunos de cursos de engenharia da USP São Carlos criaram o projeto Domus.
Os primeiros estudos com as caixas começaram em setembro de 2019, e no fim daquele ano já foram feitos testes nas paredes de uma casa desocupada na comunidade. A diferença de temperatura foi percebida quase imediatamente.
Com a Covid-19, os planos de revestir outras moradias tiveram que ser adiados. Os estudantes focaram, então, na organização interna do projeto e na obtenção de embalagens longa vida por meio de doações.
Em outubro de 2020, quando o município estava na fase amarela do Plano São Paulo de controle da pandemia, as atividades junto ao Capão das Antas foram retomadas.
Outubro costuma ser um dos meses mais quentes na região, assim, os revestimentos foram aplicados inicialmente no teto, já que o telhado das casas costuma absorver muito calor e isso eleva a temperatura ambiente.
Entre outubro e dezembro, o trabalho foi feito em nove casas. Segundo o grupo, os telhados tiveram uma redução de 19 graus na temperatura.
Outra melhora, percebida com as primeiras aplicações, foi na iluminação interna das casas.
Hoje, nove estudantes voluntários fazem as aplicações do revestimento. Há, ainda, outro grupo de tamanho semelhante para ajudar na triagem dos materiais recebidos.
As embalagens, depois de higienizadas, são costuradas em placas grandes e posteriormente fixadas nas casas usando grampeadores de tapeceiro.
O processo de revestimento do teto ou das paredes dura em média seis horas. Para fazer uma casa inteira, portanto, seriam necessárias quase 12.
No início de 2021, com a piora na pandemia, os trabalhos foram pausados novamente e só voltaram no começo de junho, para ajudar os moradores a se protegerem do frio. Cinco casas já foram revestidas.
As embalagens longa vida utilizadas pelo projeto vêm de doações de pessoas físicas e instituições.
A iniciativa já vem dando bons resultados, com o projeto sendo um dos 12 finalistas do Race for Climate Action, um concurso internacional que incentiva estudantes a criarem soluções que gerem um impacto positivo e sustentável no mundo.
O vencedor será conhecido no fim do ano e levará um prêmio em dinheiro para permitir que a ideia ganhe escala.
Fonte: ECOA | UOL
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20/07/2021 @ 17:38
[…] Fonte: Observatório do Terceiro Setor. […]