Quase 7 policiais cometeram suicídio, por mês, em 2022
Em 2022, foram registrados 69 suicídios de policiais militares da ativa, já no caso dos policiais civis, 13 morreram por suicídio. Em média, quase 7 policias tiraram a própria vida no ano passado.
Em 2022, foram registrados 69 suicídios de policiais militares da ativa, já no caso dos policiais civis, 13 morreram por suicídio em todo o país, totalizando 82 mortes de policias por suicídio no ano passado. Os dados são 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
Em média, quase 7 policias tiraram a própria vida no ano passado, no entanto, os dados do 17º Anuário não esclarecem totalmente o cenário desse tipo de morte. Nesta edição, a exemplo do que se observou em anos anteriores, nota-se a ausência dos dados para especificação dos casos. Dentre todos os dados disponíveis para a realização do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, os de vitimização seguem sendo os mais precários, junto com violência contra a população LGBTQIA+ e pessoas desaparecidas.
A insuficiência de dados indica que os estados não possuem a informação ou o registro é de fenômenos inexistentes. Há estado que passa os números totais, sem discriminar se a vítima é policial civil ou militar; outra justificativa é que os dados são sigilosos.
Em 2022, foram registrados 69 suicídios de policiais militares da ativa, 09 a menos que em 2021. Foram 01 no Amazonas, 06 na Bahia, 03 no Ceará, 03 no Distrito Federal, 03 no Espírito Santo, 04 em Goiás, 02 no Maranhão, 02 no Mato Grosso, 02 no Mato Grosso do Sul, 05 no Paraná, 07 em Pernambuco, 05 no Rio de Janeiro, 01 no Rio Grande do Norte, 05 no Rio Grande do Sul, 01 em Santa Catarina, 16 em São Paulo, 03 em Sergipe.
Para Minas Gerais essa informação não está disponível e em todas as outras UFs não houve nenhum suicídio de policial militar em 2022. Já no caso dos policiais civis, 13 morreram por suicídio em todo o país, 10 a menos que no ano anterior. Foram 01 na Bahia, 01 no Ceará, 01 no DF, 02 no Mato Grosso do Sul, 01 na Paraíba, 01 no Rio de Janeiro, 01 no Rio Grande do Sul, 02 em Santa Catarina, 03 em São Paulo.
A falta de clareza sobre os dados de mortes de policiais em decorrência de lesão autoprovocada ou autoextermínio/suicídio, afeta não apenas a categoria dos policiais, mas, os rumos da Segurança Pública. Talvez em razão da insuficiência de informações qualificadas, o assunto tem sido pouco discutido. Sem referência fidedigna a respeito das mortes violentas intencionais de policiais da ativa, seja durante o serviço, de folga ou autoprovocada, dificilmente será possível a formulação de políticas que respondam ao problema e acolham profissionais com a saúde mental comprometida, mas que permanecem trabalhando em contato direto com a comunidade.
Embora os dados coletados não nos permitam dizer o que levou os policiais a cometerem suicídio é possível levantar alguns pontos importantes para a compreensão do contexto no qual estão inseridos os profissionais da segurança pública. Dentre os condicionantes laborais para o aprofundamento dos problemas relacionados à saúde mental dos policiais, encontram-se: o assédio moral, a admissão do papel de “policial herói”, o desgaste físico e mental em razão do contato continuado com situações de perigo, a cobrança institucional pelo cumprimento de metas, o endividamento, e a insegurança jurídica.
O assédio moral exercido sobre um indivíduo alcança e subordina o coletivo do ambiente laboral. Nesse contexto, encontram-se alguns perfis. Aquele que é o alvo; aquele que enxerga a injustiça e escolhe o silêncio diante do temor de que seja o próximo; aquele que adere à lógica da competição e culpabiliza o assediado pelo assédio; aquele que naturaliza o problema como se fosse inerente à instituição, cabendo ser suportado pelos profissionais; e aquele que se posiciona contrário à prática e sofre retaliações. É importante dizer que, no geral, os dados de vitimização disponíveis são muito ruins e não dão visibilidade para prevenir a morte de policiais no Brasil por suicídio.
A Organização das Nações Unidas (ONU) desenvolveu uma série de objetivos ambiciosos no ano de 2015 por meio de um “Pacto Global”, que envolve os seus 193 países membros. O Brasil está entre os países que se comprometeram a alcançar os objetivos. Ao todo, o projeto da ONU contempla 17 ODS, ou seja, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável.
O cenário apresentado pelos dados do Anuário de Segurança Pública indicam problemas que colocam em risco o cumprimento dos ODS e a Agenda 2030, especialmente o ODS 3 que é assegurar uma vida saudável
e promover o bem-estar para todos, em todas as idades.
Fonte: 17ª edição do Anuário Brasileiro de Segurança Pública.