Tráfico de drogas arrecada R$ 9,7 milhões mensais na Cracolândia de SP
Pesquisa da Unifesp também revela que 65,3% dos frequentadores da região vivem e dormem boa parte das noites na Cracolândia, sendo que 41,7% estão vivendo nas ruas há 5 anos ou mais
Por: Mariana Lima
De acordo com uma pesquisa recém-lançada pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), 46% dos frequentadores da Cracolândia, no centro da capital paulista, compram as drogas com o que arrecadam de roubos.
O levantamento foi realizado pela Unidade de Pesquisa em Álcool e Drogas da Unifesp, e trouxe um panorama sobre os hábitos e o perfil de quem vive na região, que desde a década de 1990 é ocupada por dependentes químicos.
O trabalho dos pesquisadores foi realizado ao longo do mês de dezembro de 2019, tendo como base entrevistas com 240 pessoas, e promoveu uma contagem da população habitual do local por meio de aparelhos manuseados discretamente em seus jalecos.
O estudo apontou que 1.680 pessoas, em média, consomem drogas diariamente na Cracolândia, que está espalhada por ruas do centro da cidade, conhecidas por no passado terem abrigado mansões e residências da alta sociedade paulistana.
A pesquisa revela que cada usuário gasta, em média, R$ 192,50 diários com o consumo de crack. Assim, são arrecadados mensalmente R$ 9,7 milhões para o tráfico.
O valor é maior do que o aplicado pela gestão do prefeito Bruno Covas (PSDB) na subprefeitura da Sé (R$ 7,3 milhões) mensalmente ao longo de 2019.
De acordo com investigadores, as drogas chegam à região através de pessoas que utilizam transporte público, principalmente metrô, e carregam as drogas em pequenas quantidades, geralmente em mochilas ou nos bolsos.
A tática possibilita que os prejuízos sejam menores caso alguém seja preso com a droga destinada à região. A comercialização é realizada em barracas ou tendas de lona, que impedem a visualização externa.
Em média, são 30 pontos diários de venda. Caso nem todas as drogas sejam vendidas, elas acabam armazenadas em hotéis, pensões e cortiços.
A pesquisa ainda traçou um perfil da população que frequenta a Cracolândia:
- 65,3% vivem e dormem boa parte das noites na Cracolândia;
- 41,7% estão vivendo nas ruas há 5 anos ou mais;
- A idade média é de 35,2 anos, sendo que 68,7% são homens e 77,5% são solteiros;
- Mulheres representam 23,7% desta população, e pessoas transgênero correspondem a 7,5%;
- 49,6% nasceram na cidade de São Paulo ou na Grande São Paulo;
- 33,3% são de outros estados, enquanto 15% são do interior;
- 45,8% são pardos, 30,8% são pretos e 22,2% são brancos;
- 36,1% têm Ensino Fundamental incompleto.
Os usuários entrevistados apontaram que a disponibilidade da droga (31,2%), a segurança entre os pares (20,4%), o preço (16,4%) e a liberdade para o uso (14,8%) estão entre os fatores que os levaram à Cracolândia.
87% dos entrevistados informaram não ter atividade remunerada e 79,4% estão sem atividade remunerada há pelo menos 1 ano. 54% não têm atividade renumerada há 5 anos ou mais.
O dinheiro para a compra de drogas vem, principalmente, da atuação como pedintes (58%), da troca de itens por drogas (48,1%), do roubo de pessoas (46%), do furto de estabelecimentos (44%) e da prostituição (35%).
O estudo ainda revelou que os usuários que frequentam a Cracolândia começaram a beber, em média, aos 11,4 anos e a fumar maconha aos 14,9 anos.
Entre os entrevistados, 61,30% informaram usar crack há 5 anos ou mais. 9,7% das entrevistadas estavam grávidas quando foram abordadas pelos pesquisadores.
Em relação à saúde mental, 58,30% apresentaram quadro psicótico, 48,40% automutilação e 38,2% informaram ter tentando cometer suicídio.
Já sobre doenças transmissíveis, 63% dos que fizeram testes no último ano têm sífilis, 12,8% têm tuberculose e 10%, HIV.
Fonte: Folha de S. Paulo