Por que o Terceiro Setor deve se preocupar em gerar e analisar dados?
Questão foi discutida por OSCs durante oficina com o consultor canadense Woodrow Rosembaum
Com o avanço da tecnologia, cada vez mais ouvimos falar em dados. Quem nunca participou de alguma discussão sobre como o Google e o Facebook sabem tanto sobre a nossa vida, por exemplo? Mas não são só essas grandes empresas de tecnologia que têm acesso aos nossos dados ou que podem fazer algo com eles. Empresas de diversos segmentos estão investindo na análise de dados para oferecerem serviços mais atraentes e personalizados e, assim, ganharem mais dinheiro. E o Terceiro Setor também tem muito a ganhar com essa tendência. Afinal, quanto mais conhecermos dos doadores, melhor nos comunicaremos com eles.
Em alguns países onde o Terceiro Setor está mais estruturado, como nos Estados Unidos, muitas organizações já investem em plataformas de CRM para gerenciar o relacionamento com doadores. E a quantidade de plataformas de doação ou processamento de pagamentos que conseguem oferecer dados sobre quantidade e perfil dos doadores é considerável. Mesmo assim, ainda há muito a ser desenvolvido. Aqui no Brasil, a questão vem sendo discutida há pouco tempo e algumas organizações estão justamente tentando colocar o tema em evidência.
No último dia 11, a Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR) e a agência Umbigo do Mundo, organizadoras do #diadedoar 2018, promoveram a oficina ‘Dados da Filantropia para Impacto no Brasil’, ministrada pelo consultor canadense Woodrow Rosembaum. O encontro ocorreu na Fundação Álvares Penteado (FECAP), em São Paulo, e reuniu integrantes de organizações da sociedade civil que desenvolvem pesquisas (como o GIFE e o Instituto Filantropia), plataformas de doação (como a Juntos.com.vc e a Trackmob) e outros segmentos estratégicos, como comunicação (Observatório do Terceiro Setor). A ideia era discutir a importância de levantarmos dados sobre as causas sociais no Brasil, a partir do estudo de caso do #GivingTuesday, campanha global cuja versão brasileira é o #diadedoar, e que visa promover a cultura de doação.
Com mais dados, temos melhores resultados
A primeira edição do #GivingTuesday, em 2012, arrecadou online 10 milhões de dólares para causas sociais. E a cada ano a quantidade arrecadada cresce. Em 2017, foram 301 milhões de dólares. Como isso foi possível? Com um trabalho que envolveu analisar ano a ano os resultados e usar esses dados para tornar a edição seguinte mais certeira.
Atualmente, a versão norte-americana da campanha conta com dados de 40 plataformas para medir seu impacto. São plataformas de financiamento coletivo, doação, CRM, processadores de pagamentos, entre outras.
Aqui no Brasil, o #diadedoar ainda tem bem menos opções para medir resultados, mas mesmo assim conseguiu contabilizar 678 mil reais em doações na edição de 2017. Deste valor, 300 mil reais foram doados por meio da plataforma Abrace o Brasil, da BrazilFoundation, e 240 mil reais por meio da Juntos.com.vc. O desafio agora, segundo João Paulo Vergueiro, da ABCR, é reunir mais organizações interessadas em ajudar a medir o impacto da campanha. Com isso, seria possível aperfeiçoar a iniciativa e incentivar a cultura de analisar e compartilhar dados no Terceiro Setor brasileiro.
Organizações precisam dialogar mais
Um ponto amplamente discutido durante o encontro foi a necessidade de as organizações da sociedade civil no Brasil trocarem mais informações entre si. Atualmente, as entidades que realizam pesquisas são poucas e não é raro que essas pesquisas fiquem restritas a um número pequeno de pessoas ou organizações.
“Nós precisamos fazer pesquisas com doadores e não doadores, perguntar as motivações para doar. E precisamos analisar campanhas”, destacou o consultor Woodrow Rosembaum. Em seguida, ele disse que esse trabalho de pesquisa e análise deve ser feito de forma colaborativa.
E essa colaboração não deve se restringir às organizações da sociedade civil. De acordo com o consultor, é importante também buscar apoio junto a empresas, universidades e órgãos do Poder Público. Quanto mais conhecimento gerado sobre as causas sociais, mais a sociedade como um todo pode se desenvolver.
Organizações podem agir juntas para captar recursos
Outro ponto importante destacado por Rosembaum é que existe um mito no setor social de que os doadores se cansam dos pedidos de doação. Assim, se ocorreu uma grande catástrofe, por exemplo, e a pessoa já doou dinheiro no mês passado, ela não vai querer doar para a sua ONG este mês. Esta ideia acaba gerando até uma certa “concorrência” entre as organizações, porque leva a crer que a pessoa vai doar ou para a sua organização ou para uma outra. Mas, na verdade, as coisas não funcionam assim.
Segundo o consultor, uma pessoa que já foi sensibilizada e doou para uma organização sem fins lucrativos tem mais chances de doar também para a sua. E campanhas amplas e descentralizadas, como o #GivingTuesday, que são promovidas simultaneamente por várias organizações, tendem a gerar bons resultados. Isso porque várias pessoas vão ouvir falar de doação e de causas sociais, e vão se interessar pelo assunto. O #GivingTuesday, aliás, segundo Rosembaum, já é o dia em que as pessoas mais pesquisam na internet sobre doações e ONGs e é, em várias das maiores plataformas de doação, a data no ano em que mais dinheiro é arrecadado para causas sociais.
Este ano, o #GivingTuesday / #diadedoar será em 27 de novembro. Para saber mais sobre a campanha, clique aqui.