Em um ano, produção de livros no Brasil cai em 43 milhões de exemplares
Faturamento do mercado editorial brasileiro teve uma queda real de 4,5% em 2018
por Artur Ferreira
Em 2018, o Brasil teve, pelo quinto ano consecutivo, queda no mercado editorial. A queda nominal foi de 0,9% e a real (que considera a perda de valor do dinheiro devido à inflação) foi de 4,5%. Com isso, o setor fechou o ano com um faturamento de R$ 5,1 bilhões. O número de exemplares produzidos caiu 11%, o que significou 43,37 milhões de livros a menos, em relação a 2017.
Os dados são da pesquisa ‘Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro’, realizada pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe) em parceria com a Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros, e demonstram que o único subsetor que se manteve com resultado nominal positivo de vendas foi o de livros Religiosos, com crescimento nominal de 1,1%, porém uma queda real de 2,6%.
Enquanto isso, houve quedas nos subsetores de Didáticos (-5,6% nominal), Obras Gerais (-3,3% nominal), e Científicos, Técnicos e Profissionais (-17,33% nominal).
A pesquisa levou em consideração as vendas de livros para o mercado e para o governo. Considerando apenas as vendas para o mercado, o setor teve uma queda nominal de 6,7% em 2018, o que, considerada a inflação, significa uma queda de 10,1%.
Atualmente, as maiores redes de livrarias do Brasil, Saraiva e Cultura, enfrentam um processo de recuperação judicial para renegociação de suas dívidas.
Daniel Lameira, editor da Aleph, afirmou que, para o setor editorial, 2018 foi o ano em que a crise pôde ser mais sentida, “a questão da recuperação judicial pelas grandes redes veio de repente para nós editores”.
Ele também explica que muitas editoras foram prejudicadas devido ao modelo de negócios de compra consignada de livros. Isto é, as redes de livrarias pagavam uma parte do valor dos livros encomendados na compra e a outra parte do valor em um período de tempo combinado com a editora. Com a crise no setor, as livrarias deixaram de pagar esses livros no prazo estipulado, prejudicando todo o setor.
De acordo com Lameira, um dos principais motivos para a crise nas grandes redes do mercado editorial é a discrepância de preços entre as livrarias e serviços como o da Amazon, “a Aleph sempre ficou entre um meio termo do consignado das livrarias e a venda direta do livro”, afirma o editor.
“Nós tentamos ser sempre sinceros com nossos leitores. Uma das melhores formas de contornar a crise foi investir em uma comunicação mais direta com o público, ir a eventos literários. Porém essa proximidade demanda tempo e investimento de marketing”, conclui Lameira.
“A Amazon realmente compra o livro, não consigna um produto que vai ser realmente pago 6 meses depois da compra, ela atingiu em cheio o modelo de negócios das livrarias”, afirma Diego Ribeiro, editor do blog Stalo, Diego já cobriu eventos literários por editoras como a Suma de Letras e a Leya, além de já ter mediado eventos focados em literatura fantástica.
Para Diego Ribeiro, outro fator para a atual situação do mercado de livros é a crise econômica que afeta o país e que faz com que as pessoas precisem reduzir gastos, o que sempre começa pelas formas de divertimento, por serem consideradas supérfluas ou menos importantes. “Na minha opinião, lê-se pouco hoje em dia. Ocorreu uma mudança de hábitos e nos gostos da população em geral, principalmente os mais jovens. As pessoas perdem a paixão pelo livro e, quando se perde um hábito, logo ele não faz mais falta”.
De acordo com a pesquisa ‘Retratos da Leitura no Brasil’, realizada em 2016 pelo Instituto Pró-Livro, constatou-se que o brasileiro lê em média apenas 2,43 livros por ano. Além disso, 30% da população nunca havia comprado um livro.
Tanto Lameira quando Ribeiro acreditam que as editoras são obrigadas a tomar certas medidas para se manterem. Uma possível medida para se aproximarem mais do público é a valorização de bons blogs e “booktubers” (apelido dado aos canais no Youtube focados em literatura), que estão crescendo em assinantes e espectadores.
Outro meio é “ser realista e reduzir a margem de lucro para tentar ser mais competitivo com o e-commerce”, afirma Ribeiro. Além disso, realizar a venda direta, sem a mediação de uma livraria, é outra forma comentada por ambos.
Outro ponto fundamental para Ribeiro é incentivar a paixão pelos livros e que as pessoas os vejam como uma boa opção de presente, por exemplo.