É possível uma visão holística no empreendedorismo social?
Durante os 12 anos que tenho atuado como professora nas universidades nos cursos de especialização e extensão de gestão para organizações do terceiro setor, tenho presenciado um enorme interesse e envolvimento de pessoas na criação de diversos projetos sociais.
Nesse universo heterogêneo e de diferentes objetivos, existem atuações por meio de projetos sociais tanto no campo das políticas públicas, como no campo restrito das organizações com públicos específicos.
Porém, é preocupante perceber que muitos “empreendedores sociais” têm atuado nas questões públicas com visões limitadas, nas quais o mundo ou a sociedade são vistos de maneira desintegrada e parcial.
Infelizmente, a lógica e os valores do mercado afetam de maneira cruel a consciência e as ações de um grande número de pessoas. O sociólogo Polonês Zygmunt Bauman afirma que estamos diante de uma sociedade cada vez mais doente, competitiva e superficial.
É necessário o despertar urgente para uma outra consciência. É preciso que se tenha uma visão holística, que considere o todo (global) e a interação das relações sociais, políticas, econômicas, ideológicas e culturais. Somente assim, será possível o entendimento e uma análise mais crítica.
Acredito que devemos combater o que tem prevalecido nas organizações e no universo do empreendedorismo social, que é a lógica do mercado mascarada pela “construção de um mundo melhor”.
É preciso avançar do paradigma de que somente a informação basta para o paradigma do conhecimento crítico e reflexivo. Para isso, os empreendedores sociais, que atuam nas diversas organizações do terceiro setor, devem ter consciência que são sujeitos políticos e que têm uma responsabilidade ética e moral por atuar nas questões de interesse público.
Analisar e compreender o mundo que vivemos de maneira integral é estar voltado para o entendimento das questões políticas (local e global), da importância das políticas públicas, dos avanços no campo dos direitos humanos e sociais, da participação e do envolvimento com as diversas áreas e campos sociais.
É possível a formação de uma visão holística no empreendedorismo social? Acredito que só será possível se combatermos a cultura do “aqui e agora”. Para tanto, é preciso avançar das análises simplistas do senso comum para o conhecimento profundo, crítico e reflexivo. Sem isso, só estaremos brincando na casinha construída “das ambições e inovações dos empreendedores do século 21”.