Crise do Capital e a Questão Social
Os últimos acontecimentos ocorridos na França, de manifestações contra a reforma da previdência do Estado, nos remetem a reflexão de que as crises no sistema capitalista são contínuas e atravessam períodos históricos longos que afetam tanto os países centrais, como os países periféricos, sendo esses de forma mais significativa.
Crises que tem como palco histórico, o fim da segunda guerra mundial e atingem o seu auge com o enfraquecimento dos Estados-Nação, bem como o agravamento da questão social e as mudanças no mundo do trabalho.
O modelo taylorismo-fordista é substituído a partir das décadas de 1970 e 1980 pela versão mais sofisticada e cruel da acumulação flexível-toyotismo. O capitalismo concorrencial é substituído pelo capitalismo monopolista.
Nesse novo modelo de relação de trabalho e de transformações do Estado verificamos a precarização, privatização, mercantilização, desemprego, desigualdade e agravamento da questão social.
Nesse cenário de “Estado mínimo”, contrarreformas, neoliberalismo e mundialização do capital que a seguridade social e a proteção social são duramente atacadas.
Ricardo Antunes chama a atenção que estamos vivendo o auge do capitalismo mais cruel e manipulatório jamais visto, no qual o Estado cumpre o seu papel penal e garantidor dos interesses do mercado e da burguesia financeirizada.
É importante salientar que a questão social, como sendo um conjunto de expressões das desigualdades sociais, são produzidas e reproduzidas em um movimento contínuo e contraditório das relações sociais. Essas se configuram no século XXI como as novas expressões ainda mais nocivas para toda a sociedade.
A “nova questão social” produz efeitos devastadores e desafios na defesa dos direitos de cidadania, onde o Estado se desresponsabiliza e redireciona a proteção social para o campo privado e individual.
Entretanto, David Harvey destaca que a “pacificação social” que ocorreu nas últimas décadas é ilusória, pois o acirramento das lutas de classes se intensifica com a exploração e retirada de direitos conquistados.
Desafios são postos à autonomia dos Estados diante da mundialização e homogeneização do mercado e de modelos únicos. A questão social se agrava e os movimentos e lutas de classes se intensificam.
Assim, as contradições, os conflitos, os interesses antagônicos e as lutas sociais movimentam a velha roupagem na versão mais destruidora na sociedade contemporânea: a crise permanente e estrutural do capital.
*
*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.
Mara Ribeiro Bartnik
20/04/2023 @ 22:36
Excelente texto Márcia. Parabéns!!! Peço licença para compartilhar na minha página no Facebook.
Abraço