Os esquecidos do Brasil: 93% das cidades fronteiriças não têm UTI
No Brasil, 122 cidades fazem fronteira com outros países. A maioria destes locais parece esquecida pelo poder público, principalmente na área de saúde. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), um em cada cinco municípios brasileiros que fazem fronteira com outros países não tem leitos de internação disponíveis no Sistema Único de Saúde (SUS). E o mais grave: 93% dessas cidades não têm leito de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) ou Centro de Terapia Intensiva (CTI), como é chamado em alguns municípios brasileiros.
No restante das cidades (7%), há um total de 273 leitos de UTI. Desses, 133 estão em apenas uma cidade: Porto Velho (RO).
O levantamento do CFM aponta a precariedade no atendimento à saúde nas 122 cidades fronteiriças dos estados do Acre, Amapá, Amazonas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio Grande do Sul, Rondônia, Roraima e Santa Catarina. Os dados foram divulgados agora em abril e são relativos a este ano.
De acordo com o levantamento, esses 122 municípios têm, no total, uma população de 3,4 milhões de pessoas. E para atender todos esses habitantes há apenas 654 unidades básicas de Saúde (UBS). Para fazer uma comparação, estados em que o número de habitantes é semelhante a esse total, como Alagoas, Piauí e Rio Grande do Norte, a quantidade de unidades básicas de saúde é maior: Alagoas tem 821; o Piauí, 978; e o Rio Grande do Norte, 841.
Entre as cidades de fronteira, 42 não contam com um hospital geral. E o total de hospitais, juntando todas as 122 cidades, é de 115, conforme dados obtidos pelo CFM junto ao Cadastro Nacional de Estabelecimentos de Saúde (CNES), coordenado pelo Ministério da Saúde. O conselho destaca que o total de hospitais é praticamente igual ao registrado apenas no município do Rio de Janeiro.
Com falta de atendimento na cidade em que reside, a população precisa se deslocar para outros municípios. De um total de 200 mil internações de moradores das cidades analisadas, 16 mil ocorreram fora dessa zona. Quase mil das 13.835 internações para tratamento de pneumonias ou gripe tiveram que ser feitas em outros locais. Dos 22.745 partos, 1.700 ocorreram fora dos limites dos municípios fronteiriços.