Para captarem mais recursos, OSCs devem ampliar seu campo de visão
Aumentar os recursos da organização passa por diferentes áreas, como a jurídica e a de comunicação
Uma das principais dificuldades das organizações da sociedade civil (OSCs) é captar recursos. E parte dessa dificuldade reside no fato de muitas organizações não conseguirem planejar de forma adequada a captação ou de não conseguirem enxergar como diferentes áreas da instituição influenciam nos resultados.
Acredite, a sua captação passa por áreas como a jurídica e a de comunicação. E até mesmo pela forma como você lida com a tecnologia dentro da sua entidade. Pensando nessa complexidade que envolve a sustentabilidade financeira das OSCs, o Observatório do Terceiro Setor está promovendo o ‘Ciclo de Palestras Profissionalizar para Transformar o 3º Setor’.
O terceiro evento do ciclo ocorreu nesta quinta-feira (21/02), no auditório da Fundação Instituto de Administração (FIA), em São Paulo, e reuniu especialistas das áreas de captação de recursos, direito, comunicação e tecnologia. Em todas as falas, o objetivo foi o mesmo: mostrar a necessidade de ampliar o campo de visão das organizações, incentivando a gestão a olhar com atenção para diferentes áreas, já que todas são relevantes para o sucesso da entidade. E, é claro, incentivar a profissionalização dentro das diferentes áreas.
A abertura oficial do evento foi realizada pelo Curador de Fundações de São Paulo, Airton Grazzioli, que destacou a importância de haver uma discussão permanente sobre a atuação do Terceiro Setor e de as organizações acompanharem as mudanças políticas que influenciam diretamente na área.
O diretor geral da FIA, Isak Kruglianskas, também falou sobre a importância de promover a profissionalização constante do Terceiro Setor e mencionou o novo curso de pós-graduação da casa, realizado em parceria com o Instituto GESC, e que é focado na gestão de OSCs.
A seguir, veja um resumo do que foi falado em cada uma das palestras. Nos próximos dias, divulgaremos textos mais detalhados sobre cada uma delas. Você também pode assistir a todas neste link.
Captação de recursos
Ministrada por João Paulo Vergueiro, diretor executivo da Associação Brasileira de Captadores de Recursos (ABCR), a palestra teve como foco o relacionamento com doadores. “O doador é para as organizações do Terceiro Setor o que o cliente é para as empresas; é ele quem financia a organização”, destacou.
De acordo com Vergueiro, é fundamental ter clara a importância do doador para dar a ele a atenção adequada. “O doador não quer ser visto como a ‘vaca leiteira’ ou o ‘pote de dinheiro’”, ressaltou o especialista. Isso significa que não basta entrar em contato para pedir dinheiro. O doador quer conhecer a sua instituição, saber o que ela está fazendo, quais os resultados. E quer se sentir valorizado. Quer saber como a doação dele está ajudando a transformar a realidade de outras pessoas.
Segundo o especialista, o doador deve ver a sua organização como um meio pelo qual ele consegue tornar o mundo melhor. E isso só é possível se ele for informado sobre as ações da sua entidade e se a comunicação destacar a importância dele nesse trabalho.
Direito
A palestra teve como foco os incentivos fiscais, um tema que gera muitas dúvidas nas organizações. A palestrante foi a advogada Ana Carolina Pinheiro Carrenho, especialista em Terceiro Setor e Negócios Sociais.
O primeiro ponto destacado na palestra foi a importância de não confundir a natureza jurídica da organização (fundação, associação ou organização religiosa) com títulos ou certificados (como OSCIP, por exemplo). Esses títulos são qualificações e, com a lei 13.019/14, já não são obrigatórios para parcerias com o Poder Público.
A advogada também esclareceu que as verbas obtidas via incentivos fiscais são sempre “carimbadas”, isto é, específicas para projetos ou programas, e não podem ser usadas para manter a estrutura da organização. Logo, devem ser vistas como uma forma complementar de captação de recursos, mas não como a principal e muito menos a única.
Ana Carolina falou, ainda, da necessidade de a instituição ter prevista em seu estatuto a captação de recursos via incentivos fiscais. E citou alguns dos incentivos fiscais na esfera federal, em áreas como saúde, esporte e cultura (há uma tabela com esses incentivos no slide 20 da apresentação dela, disponível no final deste texto).
Comunicação
A palestra da estrategista social Tiemi Yamashita, especializada em comunicação e sensibilização de público, explicou o que faz uma assessoria de imprensa e por que as organizações deveriam investir nesse tipo de comunicação. “Ninguém doa para quem não conhece”, afirmou.
Para Tiemi, muitas organizações ainda não se deram conta de que elas precisam se comunicar de diferentes formas com o seu público, além de ampliar o seu leque de opções para novos públicos. “A mídia consegue alcançar públicos que ainda não te conhecem”, ressaltou.
Ela também falou sobre o marketing de conteúdo, cada vez mais em evidência, e fez um alerta: se a sua organização optar por não dar atenção para as novas formas de comunicação agora, em alguns anos ela já não terá apoiadores suficientes para mantê-la em funcionamento.
Tecnologia
A última palestra do dia foi ministrada pelo economista e industrial Ronaldo Stabile, vice-presidente da Associação Brasileira de Reciclagem e Inovação (ABRIN) e CEO da Recicladora Urbana.
Em sua palestra, Stabile falou da importância de passarmos de um modelo de economia linear, em que a matéria-prima vai para a fábrica, vira produto, chega às mãos do consumidor e depois acaba no lixo, para um modelo de economia circular, em que os produtos são reaproveitados depois do consumo, tornando-se novamente matéria-prima. Assim, consomem-se menos recursos naturais, polui-se menos o meio ambiente e economiza-se dinheiro.
Colocando em prática o conceito no dia a dia das organizações, Stabile usou como exemplo o reaproveitamento de equipamentos eletrônicos. Sua empresa, a Recicladora Urbana, recolhe equipamentos de TI e telecomunicações, como computadores e telefones, e usa as peças para montar equipamentos semi-novos, vendidos a preços bem mais acessíveis que os de equipamentos novos.
Com isso, muitos equipamentos deixam de virar lixo eletrônico (altamente tóxico, por sinal) e se tornam equipamentos acessíveis para OSCs. Além disso, a empresa ajuda no processo de doação de equipamentos de empresas para organizações sem fins lucrativos, para garantir que tudo seja feito dentro da lei, já que destinação inadequada de resíduos eletrônicos é crime ambiental.
O evento
O evento fez parte do ‘Ciclo de Palestras Profissionalizar para Transformar o 3º Setor’, um projeto desenvolvido pelo Observatório do Terceiro Setor, em parceria com a Fundação Salvador Arena e com apoio da Associação Científica e Cultural das Fundações Colaboradoras da USP (FUNASP), da Fundação IDI, da Fundação Instituto de Administração (FIA) e da Fundação Sinhá Junqueira.
Ao longo dos próximos dias, serão publicados no site do Observatório do Terceiro Setor textos sobre cada uma das palestras, com mais detalhes do que foi dito. Além disso, os vídeos com as palestras serão disponibilizados aqui no site e no canal do Observatório no Youtube.
Para ver as palestras dos eventos anteriores, clique aqui.
Abaixo, as apresentações de slides de cada uma das palestras:
Palestra 1 – Captação de recursos: relacionamento com doadores
Palestra 2 – Direito no Terceiro Setor: principais leis de incentivo
Palestra 3 – Comunicação: quando vale investir em uma assessoria de imprensa
Palestra 4 – Tecnologia: benefícios em software e hardware para o Terceiro Setor