Um em cada cinco brasileiros faz trabalho voluntário
Brasil ocupa a 75ª posição no Índice Mundial de Solidariedade, 2ª melhor posição desde a criação do ranking
por Diego Thimm
Em pesquisa anual realizada desde 2009, a Charities Aid Foundation (CAF), representada no Brasil pelo Instituto para o Desenvolvimento do Investimento Social (IDIS), mostra um panorama mundial sobre generosidade no relatório World Giving Index 2017 (Índice Mundial de Solidariedade).
Com 139 países participantes e 146 mil entrevistados, os dados, coletados pelo Instituto Gallup, são divididos em três frentes principais: ajuda a um desconhecido, doação de dinheiro e trabalhos voluntários.
Nesta terça-feira (05), a diretora-presidente do IDIS, Paula Jancso Fabiani, divulgou os dados referentes ao ano de 2016, em evento realizado no Centro Ruth Cardoso, em São Paulo.
Brasil
O país apresentou uma queda nos índices gerais de generosidade no ano passado. Caiu da 68ª posição para a 75ª. A principal baixa foi no número de pessoas que doaram dinheiro, que saiu de um índice de 30% para 21% da população. De acordo com Paula, isso aponta para dois fatores: a instabilidade econômica e política, e o fato de a tragédia de Mariana (MG), em 2015, ter aumentado o número de doações da pesquisa passada.
Apesar da queda no ranking, a pontuação geral do Brasil se mantém maior que em anos anteriores. É a segunda melhor colocação desde que o relatório começou a ser divulgado.
Na ajuda a desconhecidos, o país manteve o índice de 54%, mesmo do relatório anterior. E, no voluntariado, o país apresentou um leve aumento: atualmente, 20% dos brasileiros fazem algum trabalho voluntário, o que representa um em cada cinco brasileiros – o melhor resultado do país neste quesito até agora. No ano passado, 18% dos brasileiros realizavam esse tipo de trabalho.
Em relação à América do Sul, o Brasil caiu da 4ª para a 6ª posição no ranking. O destaque vai para o Equador, que alcançou a segunda posição entre os países sul-americanos. Para Paula, catástrofes, como o terremoto que atingiu o país em 2016, são um dos principais fatores que levam as pessoas a aumentarem a solidariedade.
Panorama mundial
De acordo com a nova pesquisa, houve uma queda nos índices gerais de solidariedade no mundo. Países desenvolvidos, como os Estados Unidos, que costumavam aparecer entre as três primeiras posições, caíram no ranking. Os norte-americanos ocupam agora a 5ª posição. Para Paula, podemos concluir que não há uma relação direta entre a renda de um país e a sua generosidade.
Mianmar, país do continente asiático, manteve-se na primeira posição pelo quarto ano consecutivo. Os índices do país mostram que 53% das pessoas ajudaram um desconhecido, 51% doaram o tempo em trabalhos voluntários e 91% fizeram alguma doação em dinheiro. Segundo a diretora-presidente do IDIS, o alto número de doações no país se deve a uma cultura local incentivada pela religião predominante, o budismo.
Apesar da queda geral nos índices, alguns países desenvolveram-se na cultura da doação. A Indonésia, por exemplo, ficou em segundo lugar no ranking geral este ano. Em 2016, ela estava em sétimo lugar.
O terceiro lugar, ocupado pelo Quênia, também foi uma surpresa nos resultados. Paula diz que o senso social e coletivo de alguns países na África subiu as porcentagens. “Lá não existe a palavra ‘eu’, é sempre ‘nós’”, explica. No Quênia, 76% das pessoas ajudaram um desconhecido em 2016.
Desafios
Depois de apresentada a situação mundial, o evento de lançamento da pesquisa contou com uma conversa sobre os principais desafios e dificuldades para aumentarmos o índice de solidariedade no Brasil.
Pontos como a facilitação de doações, incentivos fiscais aos doadores e transparência das instituições foram discutidos. Para Paula, a prestação de contas não é o problema principal das ONGs. “A maioria das organizações já tem transparência, a questão é como tornar os resultados acessíveis às pessoas. O foco principal é o investimento em comunicação”, diz.
Para o IDIS, uma das oportunidades para a melhoria está na captação de recursos da classe média, mas as ONGs precisam encontrar também uma maneira de receber recursos das classes mais altas para aprimoramento da infraestrutura. “O caminho deve ser pensado como uma união de esforços”, finaliza Paula.
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O estudo completo pode ser baixado em https://goo.gl/tr1u3d.