Virada Sustentável 2016: a busca por soluções para uma cidade melhor
Crise hídrica, saúde, sustentabilidade e mobilidade urbana foram alguns dos temas discutidos na 6ª edição do evento em São Paulo
Não adianta falar em água e crise hídrica se você continua com os mesmos hábitos de desperdício. Não adianta falar em qualidade de vida se você ainda se estressa todos os dias e não reserva um tempo para descansar e cuidar da sua saúde. Não adianta falar em mobilidade urbana se você prefere andar apenas com seu carro e viver reclamando do trânsito.
Esses foram alguns dos temas discutidos no ContaAí, evento que aconteceu na 6ª Virada Sustentável de São Paulo na última quinta-feira, dia 25 de agosto, na Unibes Cultural.
Água – O que aprendemos com a crise?
A crise hídrica no estado de São Paulo teve seu auge nos anos de 2014 e 2015 e continua sendo motivo de preocupação. O Sistema Cantareira, administrado pela Sabesp, é responsável pelo abastecimento de água de quase 9 milhões de pessoas, e desde janeiro de 2014 vem sofrendo oscilações no nível de sua capacidade de armazenamento.
Segundo o Instituto Datafolha, até fevereiro de 2015 cerca de 70% dos paulistanos entrevistados tinham sofrido com a interrupção do fornecimento de água. Entre descontos e multas nas tarifas, a redução no consumo de água atingiu cerca de 80% da população.
Mas vale lembrar que as medidas de racionamento foram criadas apenas para uma solução de curto prazo, o que pode levar a um novo auge da crise no futuro.
Stela Goldenstein, diretora executiva da Águas Claras do Rio Pinheiros, separou seis tópicos durante o evento que mostram o que aprendemos com a falta de água. Entre eles estão a consciência de que nós temos menos água do que pensávamos e usamos mais água do que temos; a noção de que temos que trabalhar uma visão sustentável; a percepção de que há uma má gestão da água, principalmente nos territórios; e também, a falta de diálogo entre o governo e as instituições.
Malu Ribeiro, coordenadora da Rede de Águas da SOS Mata Atlântica, e Marussia Whately, coordenadora da Aliança pela Água, destacaram o incentivo a uma cultura de cuidados com a água.
“Nós viemos de uma cultura de abundância de água e não vivenciamos uma cultura de escassez; a nossa crise hídrica não começou agora, ela vem desde quando fomos afastados das marginais da cidade de São Paulo, quando as proteções das florestas foram diminuídas, prejudicando todo o sistema de armazenamento de água dos reservatórios”, afirma Malu.
Marussia citou dois pontos importantes que podem ajudar a melhorar esse problema: “Vamos refletir sobre o que aconteceu com relação à crise em 2015 e também buscar algum avanço para ter uma incidência com relação a um evento muito importante que vai acontecer este ano: as eleições municipais”.
Através da união entre poderes e setores e da mudança dos hábitos da própria população, é possível sair do estado da crise, despoluir os rios Pinheiros e Tietê, além de abrir novos rios cobertos pela vasta urbanização.
Cidades saudáveis e sustentáveis
Quando falamos em qualidade de vida, de quem você acha que é a responsabilidade? Do governo? Da população em geral? Das empresas? Na verdade, apesar de a capital paulista ter mais de 11 milhões de habitantes, cheia de trânsito e caos, não é só o governo que tem a responsabilidade de melhorar a qualidade de vida da população. Cada indivíduo é responsável por boa parte da sua saúde e do seu próprio bem-estar.
“A gente precisa abrir espaço para um contraponto diante da loucura de São Paulo, porque onde a gente está se levando há demandas cada vez mais insanas na produtividade do mundo do trabalho e isso está criando efeitos perversos na sociedade”, afirmou Wellington Nogueira, fundador da ONG Doutores da Alegria.
Ele destacou o trabalho da ONG Prematuridade.com, que disponibiliza dados sobre o tema. O Brasil é o décimo no ranking mundial de partos prematuros e o maior número dos casos acontece na região sudeste. “Essas pesquisas mostram como o impacto do trabalho, da pressão e do estresse nessa região é perverso e pode gerar grandes consequências durante a gravidez de uma mulher”, completa.
A falta de cuidados pessoais com relação ao bem estar está cada vez mais presente nas principais causas de morte na cidade. Evangelina Vormitagg, idealizadora da Virada da Saúde, disse que as duas primeiras causas de óbito no ranking de São Paulo estão relacionadas a doenças cardiovasculares e de câncer de pulmão.
Uma das alternativas para melhorar a qualidade de vida é através da força do pensamento, ou seja, pensar em saúde e não em doença. Rodrigo Lopes, diretor executivo do Hospital Bandeirantes, falou que é preciso “fazer o igual de forma diferentes todos os dias”.
E essa força do pensamento é acentuada também por Fernando Bignardi, médico formado pela UNIFESP. “Saúde é umas das consequências de você ser fiel ao seu propósito de vida”, declarou.
“Uma cidade sustentável seria uma cidade que atendesse as necessidades especiais de seus moradores e hoje as cidades não estão a serviço de seus moradores, mas sim de inúmeros outros valores. Para sabermos o que faz uma cidade ser sustentável, nós precisamos acionar o nosso lado contemplativo, ou seja, precisamos meditar, pois a meditação é o instrumento essencial para a sustentabilidade”, completou.
Mobilidade urbana – O futuro da mobilidade
Representantes da SPTrans, CET, Instituto Mobilidade Verde e da WRI Cidades Sustentáveis discutiram o futuro das cidades com relação ao transporte. A bicicleta se tornou o meio mais humanizado, com mais proximidade da população com a região paulistana.
As pessoas querem mais flexibilidade, liberdade e alternativas para resgatar o espírito e costumes das cidades de antigamente, onde tudo era mais fácil e era simples para se locomover.
O evento
A Virada Sustentável é um festival de mobilização e educação para a sustentabilidade, que acontece desde 2011, envolvendo cocriação, articulação e participação direta de organizações da sociedade civil, órgãos públicos, escolas e universidades, empresas, coletivos e movimentos sociais.
Os eventos acontecerão até o dia 28 de agosto em diversos locais da cidade e são totalmente gratuitos.
Para saber mais, acesse: http://viradasustentavel.com/