Razão e coração na Filantropia e no Voluntariado: celebrando um ano da pesquisa Voluntariado no Brasil
“A razão monitora, a paixão move” – José Bernardo Toro.
Se por um lado é o coração e a emoção que nos movem e mobilizam para a filantropia e o voluntariado, são dados, informações, números e resultados monitorados e acompanhados que garantem os investimentos e as doações de recursos materiais, financeiros e de tempo.
Estamos celebrando um ano da entrega da pesquisa com o perfil do voluntariado no Brasil.
A terceira edição de estudo relevante e registro histórico de duas décadas de voluntariado no nosso país! A primeira edição em 2001, segunda em 2011 e a terceira em 2021 tem o objetivo de mensurar o universo de voluntários no Brasil, entender a disposição e participação dos voluntários em suas atividades e avaliar a percepção dos voluntários sobre temas relacionados ao voluntariado. Os dados apontados são uma maneira não só de reconhecer quem é voluntário e dedica com comprometimento, qualidade e responsabilidade seu tempo para projetos e causas sociais – e ainda os números e informações são também norteadores dos caminhos para desenharmos uma jornada eficiente e de sucesso nessa próxima década!
A pesquisa visa compreender quem são os voluntários, onde atuam e quais suas motivações. Ela apresenta o perfil do voluntário no Brasil nas questões de gênero, idade, raça, grau de escolaridade, classificação socio econômica, renda familiar, religião, acesso à internet, mídias sociais e ainda, contempla todas as regiões do nosso país, representadas nas oito capitais brasileiras onde as entrevistas aconteceram: Brasília, Curitiba, Fortaleza, Manaus, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo.
Sou imensamente grata por ser a portadora de boas notícias sobre o voluntariado no nosso país e os achados desta edição de 2021 com resultados bastante positivos: 56% da população adulta diz fazer ou já ter feito alguma atividade voluntária na vida. Em 2001, esse número representava 25% da população e, em 2011, apenas 18%. Chama atenção também o número de voluntários ativos no momento da pesquisa – 34% dos entrevistados, o que representa cerca de 57 milhões de brasileiros comprometidos com atividades voluntárias (em 2001 eram apenas 8% e em 2011 eram 11%).
Mas é o coração que mobiliza indivíduos para a ação! Por isso as reflexões de como a pandemia realmente influenciou na atuação dessas pessoas, quais as causas que mais recebem atenção do trabalho voluntário, o grau de engajamento, de contribuição e ainda, a confiança e vínculo com os projetos, causas e organizações onde atuam, foram questões que a pesquisa procurou compreender e responder. Também foi possível entender a percepção de quem atua sobre as atitudes e impactos da atividade voluntária na sua vida. A maioria concorda que o trabalho voluntário leva as pessoas a conhecerem outra realidade; é um exercício de cidadania; um processo transformador que inspira o indivíduo a ser uma pessoa melhor.
Houve um consenso de que se os resultados das atividades voluntárias fossem mais divulgados, mais pessoas se tornariam voluntárias. Também é uma realidade que a tecnologia veio para facilitar e trazer novas possibilidades: 21% passaram a fazer atividades voluntárias online, sendo as mais comuns as atividades de apoio psicológico e de educação, com mentorias, palestras etc.
Tempo é o bem precioso e valioso doado pelos voluntários! Tanto a quantidade de pessoas envolvidas com o voluntariado aumentou, quanto as horas dedicadas à atividade. Se a quantidade média de dedicação por pessoa era de 5 horas mensais em 2011, a pesquisa de 2021 aponta a média de 18 horas mensais. O prazer de doar parte do tempo para ajudar as pessoas da comunidade é uma força e uma das grandes motivações para o voluntariado e o reconhecimento de que a atividade voluntária é a melhor forma de auxiliar a sociedade.
Apesar do desconhecimento da maioria (70%) dos voluntários em relação a Agenda 2030 dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU, a maioria avalia positivamente a contribuição das atividades voluntárias, principalmente para a cultura de paz e colaboração para o bem comum; promoção da igualdade de gênero e autonomia das mulheres; combate a doenças; promoção da educação e a erradicação da pobreza e fome no país.
Outras pesquisas tem apontado a importância do voluntariado no nosso país! A Iniciativa PIPA, em parceria com o Instituto Nu, realizou em 2022, a pesquisa “Periferias e Filantropia – As barreiras de acesso aos recursos no Brasil” com o objetivo de analisar a descentralização dos recursos privados para viabilizar as ações e os projetos daqueles que estão na ponta: é incrível ver como essas organizações fazem tanto com tão pouco e com tanta desigualdade de acesso a recursos. A maioria das organizações sobrevive com menos de 25 mil reais por ano, sendo duas das três principais fontes de receita dessas organizações, dinheiro próprio e doações individuais (em sua grande maioria de pessoas do próprio território). Um dos destaques da pesquisa é que em 58% toda a equipe é voluntária.
O que move os voluntários é, majoritariamente, a solidariedade, a vontade de ajudar! E um dos vetores de satisfação e motivação mais importantes é a relevância da atividade em que os voluntários estão atuando. Sabemos que é uma jornada de cada vez mais celebrar e comemorar com quem pratica, de divulgar, comunicar e mostrar caminhos para ampliar o engajamento e ainda de qualificar cada vez mais as atividades realizadas, preparando os voluntários para agir! As situações emergenciais humanitárias ocorridas no Brasil influenciaram no aumento do engajamento dos brasileiros no trabalho voluntário, e será, essencial, daqui para frente estarmos mais bem preparados para essas respostas.
Na visão de 69% dos voluntários, os brasileiros fazem menos do que deveriam e poderiam, e na opinião dos voluntários, não são necessários pré-requisitos para realizar ações voluntárias, pois qualquer um pode ser voluntário – a avaliação é de que é só ter a vontade. Vamos celebrar um ano de pesquisas com uma grande chamada para voluntariar:
Escutar o coração, ter conhecimento de resultados e transformar vontade em Ação!
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*A opinião dos colunistas não reflete, necessariamente, a opinião do Observatório do Terceiro Setor.