14 milhões de brasileiros levam 2 horas ou mais para chegar a uma UTI
Levantamento também mostra que dois milhões de brasileiros precisariam realizar trajeto de barco ou avião até uma UTI
Por: Mariana Lima
Utilizando dados do Ministério da Saúde e do Google, o jornal O Globo realizou um levantamento indicando que 14,3 milhões de pessoas no Brasil estão a pelo menos duas horas, de carro, de uma unidade de tratamento intensivo (UTI) do SUS.
Os dados ainda mostram que outros dois milhões, espalhados em 77 cidades, não conseguem nem chegar a uma unidade de saúde pública por vias terrestres. Neste caso, eles precisam encarar viagens de barco que chegam a durar cinco dias, ou de avião.
Ainda é apontado que, para 40 milhões de brasileiros, pouco mais de 20% da população, é necessário viajar por pelo menos uma hora até chegar a uma UTI pública.
O levantamento utilizou dados do ministério sobre os leitos de UTI do SUS voltados para adultos no país e a distância calculada com base no Google Maps, utilizando dados de abril de 2020.
O estado do Amazonas (AM) é o que apresenta a maior área sem uma rota possível até os leitos, sendo que apenas na região de Manaus, capital do estado, os pacientes levam até 30 minutos para chegar ao leito.
Especialistas ressaltam que os municípios deveriam pensar em medidas integradas de isolamento e atendimento em rede, com base nos novos fluxos de pacientes entre regiões.
Até o dia 24 de maio, 67% dos municípios já registravam ao menos um caso confirmado de Covid-19. Entre as cidades menores, 11 novos casos eram confirmados por dia.
As regiões Sudeste e Sul possuem pólos de saúde mais distribuídos espacialmente, enquanto a situação é preocupante para as regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Até o final de abril, o país contava com 478 cidades com leitos de UTI adulto do SUS adequados para o tratamento do coronavírus em seu estado mais grave.
Com a distância do hospital, infectados pela Covid podem não buscar o atendimento e correm o risco de espalhar a doença e morrer. E mesmo quem vive próximo de uma unidade de saúde não tem a garantia de que haverá atendimento com o aumento da demanda.
Em Santo Antônio do Iça, no Alto do Rio Solimões (AM), por exemplo, seus 21 mil habitantes vivem entre a esperança por leitos e a disponibilidade de transporte. O município tem 40% da sua população entre indígenas, e 2% dos moradores já foram contaminados pela doença, o maior índice do país.
A cidade é uma dos 77 que não possuem meios terrestres para se conectar com nenhum dos leitos do SUS, apenas pelo rio ou pelo ar. Ao todo, são cinco dias de barco ou três horas de avião até o município mais próximo.
Apenas três, dos nove mortos registrados na cidade, chegaram a ser transferidos de avião para Manaus. Os respiradores do município até poderiam servir como um alento para os que ficam, no entanto, a falta constante de energia os preocupa.
O estado tem seis aeronaves para auxiliar no transporte em municípios que não registram acesso a leitos de UTI por vias terrestre, mas ainda enfrentam a dificuldade para garantir o tratamento intensivo para todos os casos graves.
Fonte: O Globo