Ação doa mais de 20 toneladas de alimentos a famílias carentes no RS
Três professoras do bairro de Restinga, em Porto Alegre, criaram juntas o projeto ‘Abrace a Quinta’. Iniciativa já doou alimentos, roupas e até móveis
Por: Isabela Alves
Com a interrupção das aulas presenciais por conta da pandemia de Covid-19, o grau de insegurança alimentar de muitas crianças aumentou.
Para parte dos alunos, a refeição feita na escola era a mais importante do dia. Às vezes, a única. De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), 320 milhões de crianças no mundo estavam sem acesso a merenda escolar em março de 2020.
Pensando nisso, a professora Caroline de Souza Coelho, de 32 anos, ao lado das colegas Edna da Silva Rego e Sidiane Haiduk, criou um projeto social para auxiliar as famílias carentes que vivem no bairro de Restinga, em Porto Alegre (RS).
Lecionando na Escola Nossa Senhora do Carmo há 4 anos, Caroline enxerga o local como um espaço fundamental para a união da comunidade, já que é lá onde as pessoas procuram ajuda tanto no sentido financeiro, como também no acolhimento emocional.
“Com o isolamento social, eu pensei: quem irá cuidar deles? Com a escola fechada, eles ficariam sem apoio e as crianças que faziam as refeições principais na escola iriam passar fome”, diz a professora.
Ela criou então o ‘Abrace a Quinta’, com o objetivo de comprar cestas básicas para essas famílias necessitadas.
Para conseguir fundos para realizar as compras de alimentos, a professora criou uma vaquinha online para recolher as doações e passou a fazer a divulgação através do Whatsapp, Facebook e Instagram.
“O nome do projeto surgiu porque estamos ajudando pessoas que vivem na quinta unidade do bairro. E já que não podemos abraçar fisicamente por causa do vírus, podemos abraçar a comunidade através da nossa solidariedade e empatia”, conta.
Para a sua surpresa, pessoas de outros estados do Brasil se comoveram com a ação e passaram a colaborar com a causa. Depois, a equipe fez um levantamento para descobrir as necessidades de cada família.
“Já trabalhei como orientadora na escola, então já tinha uma noção das famílias que estavam recebendo o auxílio emergencial ou as que tinham emprego informal, já que elas já procuravam por ajuda antes da pandemia”, conta.
De início, as professoras levavam as cestas de casa em casa com um carro. Depois que as contribuições cresceram, elas passaram a atender outras demandas da comunidade, como roupas, sapatos, cobertas, produtos de higiene pessoal, móveis e gás para preparar os alimentos.
Por conta do grande volume de doações, elas não tinham mais como levar as doações pessoalmente de casa em casa, então passaram a marcar pontos de encontro para a distribuição, respeitando as regras de distanciamento.
A equipe cresceu e Tiago Santos Baltazar, Marcos Ramos e Jeferson da Silveira Kendzierski também passaram a atuar na linha de frente ajudando nas entregas, compras, coletas de doações e na organização.
Duas mães da comunidade, Maria de Fátima Santos e Edna Andrade, também passaram a comunicar ao projeto as necessidades da população em tempo real.
“Elas mandam mensagem e avisam ‘tal família está precisando de medicamento’, ou ‘teve um incêndio e eles perderam tudo’. Assim atendemos todas as demandas na medida do possível”.
As casas da região são muito pequenas e precárias. Muitas não possuem nem mesmo água para lavar as mãos e tomar banho.
Para Caroline, é fundamental oferecer suporte a essas famílias e mostrar que elas não estão sozinhas.
A falta de saneamento que afeta a região atendida pelo projeto não é um caso isolado no país. Quase 100 milhões de brasileiros não possuem cobertura da coleta de esgoto e 35 milhões não têm acesso a água tratada. Os dados são do relatório ‘Ranking do Saneamento 2020’, divulgado pelo Instituto Trata Brasil.
Para a professora, o mais lindo do projeto é olhar o quanto a empatia e a solidariedade podem garantir direitos básicos para as pessoas que muitas vezes têm esses direitos negados. Até agora, foram já foram doadas mais de 20 toneladas de alimentos.
“Olha a potência que tem a união das pessoas. As coisas se tornam possíveis se todo mundo tem um objetivo comum. No nosso caso, era ajudar essa comunidade. Não dá para eu entrar em casa em meio ao isolamento social com todo o conforto, sabendo que as famílias que eu atendo não têm o que comer. Eu não consigo ignorar o que está acontecendo”, conclui.
Para conhecer mais sobre o projeto social, acesse a página no Instagram: @abraceaquinta.
Elcio Junior
07/02/2021 @ 17:37
Muito bom esse projeto, nós também estamos nessa luta.
Somos de Tefé no Amazonas, gostaria que vocês nos desse uma dica de como podemos dar continuidade em nosso projeto.