Animais atropelados retornam à natureza após cuidados em bosque
Os animais resgatados, que vão de araras-azuis a jiboias-cinzentas, são tratados no Bosque e Zoológico Fábio Barreto, em Ribeirão Preto (SP)
Por: Mariana Lima
Na cidade de Ribeirão Preto, interior de São Paulo, um ambulatório recebe uma jiboia-cinzenta que perdeu parte da mandíbula e do maxilar. O animal ganhou as lesões após ser atropelado por um trem.
Ela é a primeira paciente a ser atendida na sessão semanal de laser e ozonioterapia realizada no Bosque e Zoológico Fábio Barreto.
No espaço, em gaiolas e caixas plásticas, outros 31 animais aguardam atendimento. Nas mãos dos veterinários do Bosque, eles tentam superar os ferimentos que lhes foram causados por seres humanos para, então, retornar à natureza.
Os atendimentos realizados no Bosque fazem parte do projeto Uma Nova Chance, criado em 2016 pelo veterinário César Branco.
A iniciativa surgiu a partir de uma compensação ambiental de uma construtora que derrubou árvores para erguer um condomínio na cidade.
Desta forma, o zoológico, que, aos 80 anos, é um dos mais antigos em funcionamento do país, transformou-se.
Em quatro anos, o projeto atendeu aproximadamente quatro mil animais silvestres, que foram resgatados e levados ao bosque por bombeiros, concessionárias de rodovias, moradores e policiais ambientais.
O primeiro paciente tratado pelo projeto do Bosque foi uma onça-parda baleada e esfaqueada. Contudo, a maior parte dos animais chega após sofrer atropelamentos.
É o caso do gavião-carijó transferido de Ubatuba (SP) após perder a asa direita, e do cágado-de-barbicha que vivia no córrego de uma avenida e acabou com a carapaça quebrada após uma enchente.
Outros animais que chegam são vítimas de violência urbana, como a garça-vaqueira resgatada enroscada numa linha de pipa que cortou suas asas, e o bugio-negro atingido por um choque elétrico que lhe custou uma mão e um pé.
O projeto recebe animais regatados em um raio de 200 quilômetros de distância do bosque, mas também trabalha em parceria com iniciativas semelhantes, recebendo e transferindo pacientes para outras cidades.
De acordo com a coordenação do projeto, em média, 70% dos animais resgatados voltam à natureza.
Eles reaprendem a voar, correr, caçar, e são levados para viver em fazendas e reservas privadas, locais em que são monitorados, para que não se envolvam em mais acidentes, e cadastrados em um controle de fauna, para que não provoquem desequilíbrios ambientais.
Como exemplo, o projeto relata o caso de porcos-do-mato que chegaram ao Bosque com um dia de vida, órfãos e feridos.
Após o acompanhamento, foram soltos em uma fazenda onde reproduziram e formaram um bando de 14 animais.
O tempo de recuperação depende da espécie. Em geral, as aves se recuperam do dia para a noite, mas répteis como cágados, jabutis e tartarugas, por exemplo, chegam a levar até cinco anos para se recuperarem completamente.
Em relação aos animais órfãos, alguns são batizados ao chegarem. Muitos perdem as mães por atropelamento. Nem todos chegam feridos, mas são vítimas de caça predatória.
Ainda assim, nem todos os animais conseguem retornar para a natureza. As raposas, por exemplo, fazem parte dos 30% de animais que perdem a liberdade para sempre, uma vez que o contato humano as torna dóceis e dependentes demais para sobreviver à vida selvagem.
Em média, por dia, seis animais chegam feridos ao bosque. O número de atendimentos vem aumentando a cada ano.
No ano passado, 1.03 animais foram atendidos, contra 852 em 2019. O aumento, de quase 20%, foi impulsionado pelas queimadas.
As queimadas são a principal causa de atropelamentos, pois levam os animais a fugirem das plantações e matas em direção às rodovias, e a construção de condomínios nos arredores das entradas, que interferem no ecossistema local.
Apesar de ser um zoológico, a equipe destaca que o objetivo do espaço é recuperar os animais resgatados, e promover os cuidados para os que não conseguem retornar à natureza.
O leão que estava há 18 anos no Bosque, por exemplo, foi transferido para um zoológico de João Pessoa (PB) para viver com uma leoa.
Fonte: ECOA | UOL