Apagão de quase 1 mês no Amapá causou ao menos 8 mortes
Pelo menos 8 pessoas morreram direta ou indiretamente por conta do apagão que atingiu o Amapá. Famílias aguardam ressarcimento prometido pelo governo
Por: Mariana Lima
Pelo menos 8 pessoas morreram direta ou indiretamente por conta do apagão que atingiu o estado do Amapá em 3 de novembro, quando uma explosão comprometeu três transformadores da Subestação Macapá e deixou 13 cidades no escuro.
Uma das vítimas, a manicure Danielle Silva, de 23 anos, morava na Comunidade Quilombola Lagoa dos Índios, na região metropolitana de Macapá (AP).
Ela estava há 5 dias sem energia elétrica em casa. Sem conseguir dormir por conta do calor, resolveu ir de moto até a casa de um parente que ainda tinha internet, televisão e ventiladores para passar a noite.
Contudo, sua moto foi atingida na estrada de acesso ao bairro Goiabal, onde a escuridão dominava e não havia nenhum tipo de sinalização para o trânsito, uma vez que os semáforos estavam desligados. Danielle morreu na hora.
Outras duas vítimas do apagão estavam trabalhando na manutenção da rede elétrica para garantir serviços básicos à população em meio ao blecaute.
Um deles era Jehoash Vitor Monteiro, de 24 anos. O técnico de informática ficou responsável por garantir acesso à internet de parte dos moradores de Porto Grande (102 km da capital).
Sua função era cuidar do gerador de energia da empresa de fibra ótica Webflash. Graças a Jehoash, a cidade estava conectada apesar de sem energia.
No dia 6 de novembro, ele saiu para trabalhar às 20h, pois estaria de plantão. Pediu dinheiro emprestado para a mãe para comprar combustível para o gerador da própria empresa.
O corpo de Jehoash foi encontrado na sede da empresa, na manhã seguinte, ao lado do gerador, em uma sala sem ventilação. No atestado de óbito, consta morte por asfixia química.
É importante salientar que as autoridades demoraram a prestar atenção na crise energética que afetou o estado. Por mais de 20 dias, cerca de 765 mil pessoas ficaram isoladas sem acesso à internet e à telefonia.
Foram mais de três semanas de incertezas, novos blecautes e um rodízio de energia em 13 cidades.
Apesar da demora para agir, promessas de ressarcimento dos danos à população foram feitas tanto pelo governo estadual quanto pelo federal.
Em uma coletiva de impressa em Macapá, no dia 21 de novembro (quase 19 dias após o início do apagão), o presidente Jair Bolsonaro chegou a prometer editar um decreto para reparar o povo do Amapá.
Além da promessa, Jair Bolsonaro ligou um gerador termoelétrico de 2MW/h movido a combustível fóssil em uma das subestações que distribuem energia para o Estado.
O ato seria o marco do fim da crise, mas a ação foi simbólica. Para resolver a crise energética, foram ligadas 180 MW/h de energia fixa, porém a demanda segura seria de 240 MW/h, de acordo com o relatório do senador Randolfe Rodrigues (Rede).
Apesar das promessas, o governo federal se recusou a pagar duas parcelas de auxílio emergencial, que poderia compensar as perdas geradas pelo isolamento social da pandemia à população do Amapá. A solicitação das duas parcelas foi feita através de uma ação judicial do partido Rede.
A Advocacia-Geral da União entrou com recurso para negar o pedido ainda em novembro.
Uma Medida Provisória, publicada após a visita do presidente ao estado, definiu o plano de apoio às vítimas do apagão: isentar os amapaenses da conta de luz de novembro, basicamente.
Outra medida anunciada pela Aneel foi incluir cerca de dois mil moradores do Amapá no programa Luz para Todos.
Ainda assim, nenhum auxílio direto à população foi executado para compensar perdas e, especialmente, as mortes.
O apagão também comprometeu o funcionamento dos hospitais. Foram tantos dias sem luz, que no hospital central de Macapá os médicos tiveram que tomar a decisão entre ligar as máquinas de hemodiálise e as Unidades de Terapia Intensiva (UTI).
Sem luz, alguns pacientes precisaram revezar a máquina de hemodiálise, necessária para manter vivas as vítimas de doenças renais graves.
Uma das vítimas do apagão, Rubens Neves de Albuquerque Júnior, de 59 anos, estava com Covid-19 e sofria de doenças renais e diabetes. Ele teria se submetido ao rodízio e acabou morrendo em 10 de novembro, no Hospital Universitário, na capital.
Fonte: Repórter Brasil