Apesar de aptas, 433 mil famílias aguardam na fila do Bolsa Família
Para piorar a situação, o governo federal cortou R$ 83,9 milhões do orçamento do Bolsa Família e pretende usar os recursos para expandir a publicidade institucional. Esse valor iria para famílias carentes da região Nordeste
Por: Mariana Lima
Apesar de ter recebido mais verbas devido à pandemia de Covid-19, o programa Bolsa Família atendeu menos famílias nas regiões Norte e Nordeste ao longo do mês de maio deste ano em comparação com 2019.
No entanto, regiões mais ricas do pais, como o Sul e o Sudeste, apresentaram um aumento no número de beneficiários dentro no mesmo período.
O programa tem uma fila com 433 mil famílias aptas a receberam o benefício e que ainda estão aguardando a liberação. Os dados foram obtidos pelo Jornal Folha de S. Paulo, através da Lei de Acesso à Informação.
Desde 2019, o programa vem enfrentando uma sequência de cortes de famílias e entraves que praticamente barram a entrada de novos beneficiários.
Para piorar a situação, o governo federal cortou R$ 83,9 milhões do orçamento do Bolsa Família e pretende usar os recursos para expandir a publicidade institucional. Esse valor iria para famílias carentes da região Nordeste.
Em dezembro do ano passado, a fila do Bolsa Família chegou a 1 milhão de famílias e, no primeiro semestre deste ano, alcançou a marca de 1,6 milhão.
A verba extra no programa na pandemia permitiu a inclusão de 1,2 milhão de famílias por parte do Ministério da Cidadania. Vale ressaltar que essa ação não representa uma retomada do programa aos moldes anteriores ao corte.
As regiões Norte e Nordeste ainda são se recuperaram da queda de aproximadamente 1,5%, enquanto que as regiões Sul e Sudeste apresentaram uma ampliação da cobertura de 1,21% e 1,33, respectivamente.
O Ministério da Cidadania informou que o sistema para incluir as famílias funciona automaticamente, levando em consideração um modelo com estimativa de pobreza em cada estado.
Contudo, o governo usa um mecanismo estatístico com base em dados do Censo de 2010, realizado pelo IBGE. O levantamento da época indicava que 13,8 milhões de lares se encaixam em situação de vulnerabilidade de renda. Atualmente, o programa atende 14,3 milhões de lares, desconsiderando a fila de espera.
De acordo com a tabela utilizada pelo governo, por exemplo, em março, a região Nordeste registrou 105% dos benefícios estimados no sistema, apesar de muitos estados na região registrarem a menor cobertura dos últimos anos. Desta maneira, o Bolsa Família atendia mais do que o esperado pelo modelo do governo, enquanto a fila de espera aumentava.
Assim, quando o programa foi destravado em abril por causa da pandemia, a liberação foi maior em outras localidades, como a região Sul, que em março tinha uma cobertura de 73% do parâmetro calculado a partir do Censo.
O Bolsa Família visa auxiliar famílias com filhos entre 0 e 17 anos e que vivam em situação de extrema pobreza. Nestes casos, a renda per capita é de até R$ 89, enquanto a de famílias na pobreza varia entre R$ 89,01 e R$ 178 mensais (nos critérios do programa). Até março, o beneficio médio era de R$ 191,86, mas, por consequência da pandemia, o valor depositado para a maioria das famílias é o mesmo do auxílio emergencial (R$ 600) em caráter temporário.
Fonte: Folha de S. Paulo| Folha de S. Paulo | G1