Autismo: informações contribuem para o diagnóstico precoce e combate ao estigma
No mês de Conscientização do Autismo, o Observatório conversou com a neuropsicóloga do Instituto PENSI, Yasmine Martins, sobre a importância do diagnóstico precoce, quebra de estigma e acesso a tratamentos
Por Ana Clara Godoi
O Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um distúrbio neurológico caracterizado por algum grau de comprometimento na comunicação, linguagem e comportamento social, presentes desde o nascimento ou começo da infância. Segundo estimativa da Organização Mundial da Saúde, uma a cada cem crianças possui TEA – somente no Brasil, há 2 milhões de pessoas autistas.
Uma criança do espectro autista apresenta dificuldade para interagir socialmente – como manter o contato visual, expressão facial, gestos, expressar as próprias emoções e fazer amigos – e dificuldade na comunicação, optando pelo uso repetitivo da linguagem e bloqueios para começar e manter um diálogo. Também apresenta alterações comportamentais, como manias, apego excessivo a rotinas, ações repetitivas, interesse intenso em coisas específicas, dificuldade de imaginação e sensibilidade sensorial.
Enquanto algumas pessoas com TEA podem viver de forma independente, outras necessitam de cuidados. O acompanhamento médico por pediatra, psiquiatra, neurologista, psicólogo e fonoaudiólogo é fundamental no desenvolvimento da criança autista. No entanto, famílias que dependem do Sistema Único de Saúde enfrentam dificuldades para acessar o atendimento multidisciplinar.
“O primeiro obstáculo é o agendamento das especialidades. Psicologia, terapia ocupacional e fonoaudiologia do sistema de saúde em São Paulo demoram por volta de dois ou até três anos; a família fica absolutamente sem assistência por esse período, o que causa um atraso no desenvolvimento da criança”, explica a neuropsicóloga e assessora científica do Instituto PENSI, Yasmine Martins, em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor.
Além dos desafios para acessar o tratamento, crianças e jovens autistas ainda enfrentam o estigma imposto pela sociedade. Por já ter dificuldade de interagir com outras pessoas, o autista, ao se sentir discriminado, se exclui cada vez mais. Piadas ou uso de termos capacitistas, como “portador de autismo”, contribuem para o preconceito. Há ainda a dificuldade de ingressar no mercado de trabalho, devido ao estigma de que não serão bons profissionais, impedindo a independência das pessoas com TEA.
A importância da informação para o diagnóstico precoce
Os diagnósticos de autismo cresceram exponencialmente na última década e um dos motivos para o aumento na identificação é a disseminação de informações sobre o transtorno. Tal trabalho é, muitas vezes, feito por organizações do terceiro setor como a Autismo e Realidade.
Em 2015, o Autismo e Realidade foi incorporado à Fundação José Luiz Egydio Setúbal, passando a fazer parte da estrutura do Instituto PENSI, responsável por desenvolver programas de ensino e pesquisa em saúde infantil. Com propósito de difundir conhecimento sobre TEA, auxiliar familiares e combater preconceitos, a organização oferece cursos e cartilhas informativas, além de desenvolver pesquisas com foco no distúrbio.
Um dos principais materiais desenvolvidos pela Autismo e Realidade é o DSM-5 e o diagnóstico de TEA, um conjunto de critérios diagnósticos usado mundialmente para guiar o processo de investigação sobre transtornos psiquiátricos e do neurodesenvolvimento, como o autismo. O conteúdo contribui para o alcance dos ODS 3 e 10, metas da Agenda 2030 da ONU que promovem saúde e bem-estar, e a redução das desigualdades.
Em artigo publicado no O Globo em abril deste ano, o Dr. José Luiz Egydio Setúbal, presidente da Fundação que leva seu nome, destaca a importância de identificar o autismo na infância. “Neste mês de conscientização, é importante que pais, cuidadores, professores e profissionais da saúde entendam que o diagnóstico precoce do TEA é importante para melhorar a adaptação da criança ao seu entorno. Quanto mais cedo se identificar, mais tranquilo será o contato com as pessoas ao redor, menor o sofrimento e maiores as chances de conquistar uma vida plena no futuro”.