Bolsa Família reduziu mortalidade infantil em 17%, diz estudo
O estudo analisou dados de 2006 a 2015 e mostrou que impacto do Bolsa Família foi ainda maior nos municípios mais pobres
Por: Mariana Lima
Um estudo conseguiu demostrar pela primeira vez como o Programa Bolsa Família (PBF) reduziu a mortalidade infantil e melhorou a condição de saúde de crianças no país em dez anos, de 2006 a 2015.
A pesquisa foi realizada por pesquisadores do Centro de Integração de Dados e Conhecimentos para Saúde (Cidacs) da Fiocruz Bahia, em parceria com a Universidade Federal da Bahia (UFBA) e a Escola de Medicina Tropical e Higiene de Londres.
O trabalho foi publicado na edição especial sobre saúde infantil e do adolescente da revista científica PLoS Medicine, uma das mais conceituadas na área.
A pesquisa avaliou dados de mais de 6 milhões de famílias brasileiras com crianças menores de cinco anos à época do estudo, das quais 4.858.253 (77%) eram beneficiárias do Bolsa Família e 1.451.113 (23%) não.
Entre as famílias que receberam o benefício, a mortalidade infantil foi 17% menor em relação às que não receberam o auxílio.
A redução era ainda maior entre famílias que tinham crianças nascidas prematuras – nascidas antes de completar 37 semanas de gestação (22%), filhas de mães negras (26%) ou que moravam nos municípios mais pobres do país (28%).
Os dados mais recentes, de 2019, apontam para uma taxa de mortalidade de crianças de até cinco anos de 7,9 mortes a cada mil nascidos vivos, um número 60% menor do que o observado em 1990, segundo o IBGE.
O estudo tem vantagem sobre as demais pesquisas sobre o Bolsa Família, disponíveis até então, por partir de dados primários e não secundários, que incluem informações colhidas em pesquisas domiciliares como o Pnad do IBGE.
O cruzamento dos dados é feito por meio de um modelo probabilístico, uma vez que estes, apesar de terem informações pessoais, como ano e local de nascimento, idade, local de nascimento da mãe, são protegidos.
Para fazer a análise, os pesquisadores utilizaram a chamada “coorte dos 100 milhões de brasileiros”, um conjunto de dados colhido de diferentes bases do governo, como o Cadastro Único (CadÚnico).
O CadÚnico inclui os beneficiários do Bolsa Família e de outros programas sociais, como o Minha Casa, Minha Vida, assim como os dados do Ministério da Saúde sobre mortalidade, natalidade, e mortalidade materna.
Dentro da coorte dos 100 milhões, o estudo cruzou os dados de beneficiários com crianças de até cinco anos no momento que começaram a receber o Bolsa Família.
Também foram cruzados os dados de famílias em que a criança veio a óbito antes de completar os cinco anos com os de famílias nas mesmas condições de pobreza e de vulnerabilidade social, mas que não recebiam o benefício.
Para tanto, foram excluídas variáveis de renda.
Fonte: Folha de S. Paulo