Brasileiras atraídas com falsa bolsa de estudos em Londres viram escravas sexuais
Três brasileiras foram atraídas com a promessa de uma bolsa de estudos para aprender inglês em Londres e, pouco depois de desembarcarem na Inglaterra viraram escravas sexuais. Segundo a polícia, elas chegavam a ser obrigadas a atender até 20 clientes por dia
Segundo um relatório divulgado pelo Escritório da ONU sobre Drogas e Crime (Unodc), 71% das vítimas de tráfico humano no mundo são mulheres e meninas, e a maioria acaba sendo forçada a se casar ou ser escrava sexual.
Foi o que aconteceu com três brasileiras que, durante a pandemia no ano passado, foram atraídas com a falsa promessa de uma bolsa de estudos para aprender língua inglesa em Londres.
Pouco depois de desembarcarem, no entanto, elas se tornaram vítimas de um lucrativo mercado de tráfico humano que, segundo a ONU, afeta 2,5 milhões de pessoas todos os anos e movimenta mais de 30 bilhões de dólares.
“Graças à coragem e bravura das vítimas, conseguimos reunir evidências irrefutáveis que fizeram com que Edani e Stanley não tivessem outra opção a não ser se declarar culpados, o que impedirá que eles prejudiquem outras pessoas”, diz o detetive Pete Brewster, um dos responsáveis pela investigação.
Em depoimento, uma das vítimas contou que, pouco depois de começar o curso de inglês na cidade de Manchester, foi convocada a viajar a Londres para se encontrar com a mulher com quem havia negociado a bolsa de estudos.
Ao encontrá-la, ouviu que teria de assinar um contrato, do contrário “não poderia voltar para o Brasil”, “teria que viver nas ruas de Londres” e “nunca mais veria a família”.
O contrato, segundo a polícia, previa que a brasileira “vendesse seu corpo”. Aos investigadores, ela disse que não tinha alternativas e que assinou o documento com medo de não conseguir mais retornar ao Brasil.
A história se repetiu com as outras brasileiras, que também chegaram à Inglaterra após uma promessa de estudar inglês com curso, acomodação e passagens pagas.
Para conseguirem alcançar o alto valor estipulado pelos exploradores, as mulheres frequentemente se viam obrigadas a atender de 15 a 20 clientes em um único dia, segundo a polícia.
O valor confiscado pelo casal serviria para, segundo eles, pagar os custos da viagem que as jovens acreditavam ter ganhado gratuitamente.
Nos quartos, tudo era filmado por câmeras controladas pelo casal. Eles diziam às vítimas que mandariam as imagens a suas famílias “se elas não fizessem o que foram pedidas”.
Em abril de 2020, mês seguinte à denúncia de uma das brasileiras, a polícia londrina cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços do casal e recolheu celulares, documentos, tabelas de preços e caixas de preservativos.
Milhares de libras em depósitos feitos em dinheiro foram identificados nas contas bancárias da dupla.
Foi depois destas buscas que os investigadores conseguiram identificar uma vítima inglesa, uma mulher que acreditava ter sido identificada por agentes de modelos.
O caso chegou a um desfecho no dia 9 de agosto, quando Shana Stanley, uma mulher de 29 anos, e Hussain Edanie, um homem de 31, confessaram crimes de controle de prostituição e organização de viagem com intuito de exploração, envolvendo as três brasileiras e uma vítima inglesa.
Eles foram condenados e presos – Edanie recebeu uma sentença de 8 anos e 2 meses e Stanley, de 3 anos e 7 meses.
O tráfico humano tem ocorrido mesmo durante a pandemia. Por isso é importante ficar alerta com promessas vindas de desconhecidos pela internet. Desconfie de bolsas de estudos gratuitas em outros países, oferta de emprego com salários muito altos e agências de modelos desconhecidas que oferecem pagar todas as despesas para a viagem. Caso descubra algo suspeito, denuncie.
Fonte: BBC Brasil