Com 80 mil desaparecidos por ano, Brasil é cobrado internacionalmente
Comitê Internacional da Cruz Vermelha desenvolveu relatório sobre o desaparecimento de pessoas no Brasil. São 80 mil desaparecidos por ano. A instituição internacional pede atenção do governo para o alto número e menciona várias recomendações
Uma dor que 80 mil famílias sentem todos os anos, mas, infelizmente, é ignorada pelo poder público e pela população do Brasil: o desaparecimento de pessoas no país.
Todos os domingos, em frente à Catedral da Sé, na cidade de São Paulo, mães se reúnem com cartazes dos seus filhos desaparecidos, lideradas pela ONG Mães da Sé.
A organização auxilia pais e parentes de pessoas desaparecidas sem nenhuma ajuda do governo. E já localizou mais de 3 mil crianças.
Para ajudar as famílias atendidas durante a pandemia, a ONG está arrecadando doações para distribuir cestas básicas. É possível doar qualquer valor a partir de R$ 20 por meio da plataforma Apoie o Terceiro Setor, uma iniciativa do Observatório do Terceiro Setor. Para ajudar, clique aqui.
Muitas delegacias no país ainda estão despreparadas para lidar com desaparecimentos e algumas ainda pedem para os parentes voltarem depois de 24h ou 48h para fazer o boletim de ocorrência. Em outros países, as primeiras 48h são consideradas fundamentais para encontrar a pessoa desaparecida com vida. Depois, essa chance cai 70%.
“Eu só queria meu filho. Até hoje é assim. Se eu pudesse gastar tudo que eu tenho, eu gastaria até a minha vida, para ter ele de volta”, diz Francisca Ribeiro, mãe de Hugo, que desapareceu em 2007 em Guarulhos, na Grande São Paulo, aos 10 anos de idade.
Para Francisca e outros 26 familiares de pessoas desaparecidas no estado de São Paulo, nada pode ser mais valioso do que informações sobre o paradeiro de quem eles buscam.
Foi com base nos depoimentos deles que o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV) desenvolveu um relatório sobre o desaparecimento de pessoas no Brasil. A instituição internacional pede atenção do governo para o alto número de desaparecidos e menciona várias recomendações.
O objetivo do documento é mapear as necessidades de familiares de pessoas desaparecidas e orientar os governos a melhorar a resposta dada ao enorme volume de desaparecimentos. Desde 2017, são cerca de 80 mil boletins de ocorrência do tipo registrados anualmente, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Dentre as principais recomendações do relatório para as autoridades estão:
- estabelecer um mecanismo nacional para tratar o tema, com o objetivo principal de esclarecer o paradeiro da pessoa desaparecida;
- criar centros de referência em todas as cidades onde for identificado um número significativo de famílias de pessoas desaparecidas;
- instituir uma rede nacional de assistência jurídica para casos de desaparecimento, composta por representantes das Defensorias Públicas e dos Ministérios Públicos dos estados, da Defensoria Pública da União e do Ministério Público Federal;
- realizar uma reforma legislativa para criar a Certidão de Ausência, documento que poderia ser usado para para pedidos administrativos de documentos, benefícios e políticas de reparação;
- implementar uma rede nacional de atenção à saúde dos familiares de pessoas desaparecidas, que vivem consequências graves para saúde física e mental;
“A realidade com a qual o CICV se deparou é preocupante. Os familiares dedicados à busca têm dificuldades para encontrar informações confiáveis e correm riscos graves. Geralmente esgotam os seus recursos financeiros e emocionais, o que também debilita sua saúde física e mental”, afirma o documento.
“Além disso, [os familiares] acabam isolados, ressentindo-se da incompreensão e da falta de solidariedade. Em consequência, ficam indisponíveis para o trabalho, para relacionamentos e para outras atividades da vida diária, e com muitas dificuldades para acessar seus direitos”, completa o relatório.
Fonte: G1