Crise migratória: pescadores dizem que é comum encontrar corpos nas redes
O pescador Oussama Dabbebi, que vive e trabalha no litoral da Tunísia, diz que recentemente encontrou corpos de 15 migrantes em suas redes durante um período de três dias.
À medida que cresce o número de migrantes que tentam chegar à Europa, aumenta também o número de mortes no Mar Mediterrâneo.
Enquanto os funcionários da União Europeia lutam para conter o êxodo, a situação daqueles que fogem da pobreza e da perseguição está deixando sua marca trágica no litoral da Tunísia.
Assim que o sol surge no horizonte no litoral leste, o pescador Oussama Dabbebi começa a puxar suas redes. Seu rosto se fixa ansiosamente em seu conteúdo, porque às vezes não são apenas peixes que ele encontra.
“Em vez de pegar peixes, às vezes pego cadáveres. Na primeira vez, tive medo, depois, aos poucos, me acostumei. Depois de um tempo, tirar um cadáver da minha rede é como pegar um peixe.”
O pescador de 30 anos, vestido com um moletom escuro com capuz e shorts, diz que recentemente encontrou os corpos de 15 migrantes em suas redes durante um período de três dias.
“Uma vez encontrei o corpo de um bebê. Como um bebê pode ser responsável por qualquer coisa? Eu chorei. No caso de adultos é diferente, porque eles já viveram um pouco. Mas o bebê não viu nada da vida.”
Dabbebi pesca desde os 10 anos de idade nestas águas perto de Sfax, a segunda maior cidade da Tunísia.
Naquela época, ele era um dos muitos que lançavam suas redes de pesca no mar. Mas agora ele diz que a maioria dos pescadores vendeu seus barcos por grandes somas para contrabandistas de pessoas.
“Muitas vezes os contrabandistas me ofereceram quantias inacreditáveis para vender meu barco. Sempre recusei porque se eles usassem meu barco e alguém se afogasse, eu nunca me perdoaria.”
De acordo com a Guarda Nacional da Tunísia, 13 mil migrantes foram forçados a deixar seus barcos superlotados perto de Sfax e retornaram ao litoral nos primeiros três meses deste ano.
Entre janeiro e abril deste ano, cerca de 24 mil pessoas deixaram a costa da Tunísia em barcos improvisados e chegaram à Itália, segundo a agência de refugiados da ONU.
O país tornou-se agora o maior ponto de partida para os migrantes que tentam chegar à Europa. A Líbia já esteve na liderança nesse quesito, mas a violência contra migrantes e os sequestros por gangues criminosas levam muitos a viajar para a Tunísia, antes de seguir para a Europa.
Aqui no Brasil, diversas ONGs oferecem apoio aos refugiados, uma delas é a Refúgio 343, que atua para garantir a reinserção de pessoas migrantes e refugiadas no país, já tendo resgatado mais de 3 mil vidas, com atuação em 222 cidades e alcançando 19 estados e o Distrito Federal. Entre as iniciativas promovidas pela organização, todas com foco no atendimento dos pilares da garantia do emprego, saúde e educação, está a Escola Refúgio e o projeto Voluntário Acolhedor, que possibilita a interiorização de refugiados e migrantes a partir do apoio de voluntários.
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O Dia Mundial do Refugiado ocorreu no último dia 20 de junho, e para dar visibilidade à esta pauta dos direitos humanos, o Observatório do Terceiro Setor listou sete organizações da sociedade civil que atuam em defesa dos direitos humanos de migrantes e refugiados no Brasil. Veja aqui.
Fonte: BBC Brasil