Destruição do patrimônio brasileiro simboliza ataque à democracia, diz especialista
Brasil é 13º país no ranking com mais patrimônios da humanidade; ataques em Brasília danificaram obras de arte e móveis históricos
Por Julia Bonin
O Brasil é o 13º país no ranking com maior número de patrimônios da humanidade determinados pela Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco), com 22 bens na lista. Os patrimônios brasileiros reconhecidos mundialmente incluem monumentos e edifícios de Brasília, como a praça dos Três Poderes. No último domingo (8), extremistas invadiram sedes destes órgãos e danificaram obras de arte e móveis históricos, além de quebrarem vidros e aparelhos eletrônicos.
Para um bem ser considerado patrimônio, é preciso avaliar o valor histórico, com sua importância para a cultura do país, o valor estético, ou seja, a inovação conceitual que apresenta ao campo que pertence, e o simbolismo, o qual evoca a memória afetiva do povo ou da cultura para uma determinada época. Os patrimônios, sejam eles materiais ou imateriais, têm um valor imensurável do ponto de vista financeiro, uma vez que dispõem de um valor simbólico que movimenta afetos e histórias que se referem ao povo.
Parte do patrimônio brasileiro foi depredada e destruída nos ataques às sedes dos Três Poderes por extremistas que, não aceitando o resultado das eleições, invadiram os prédios e causaram um dano avaliado de 7 milhões de reais, de acordo com um relatório preliminar do governo. No entanto, o valor simbólico é muito maior: segundo o historiador Sidnei Vares, os objetos danificados são representantes do país e da democracia, sendo as ações de vandalismo uma mensagem contra os poderes republicanos.
“Há uma estética nesse ataque de uma arquitetura da destruição cujo alvo indireto foi material — os prédios, os móveis, as esculturas, as peças históricas e as pinturas — mas que visavam atingir, de fato, os valores democráticos e republicanos”, disse o especialista.
Ele ainda considera que o caso deixou uma enorme cicatriz na sociedade brasileira, que não se dissolverá facilmente. “A parte democrática do país assistiu a uma tentativa malfadada de um Golpe de Estado. E essa tentativa não deve ser vista apenas no âmbito da política, como em 1964. Ela foi, sobretudo, simbólica”. A mensagem passada pelos radicais é de contrariedade às eleições livres, à cultura e aos valores republicanos e democráticos, explica.
Logo após os ataques, o presidente Lula anunciou que os extremistas serão responsabilizados pela depredação do patrimônio público. Até o momento, 1.166 pessoas foram presas e transferidas para presídios do Distrito Federal, segundo o g1. As ações terroristas foram condenadas por diversos grupos nacionais e internacionais, que também pedem a punição dos envolvidos.
Além disso, a Unesco anunciou uma parceria com o Ministério da Cultura brasileiro para auxiliar no trabalho de recuperação do patrimônio danificado pelos extremistas. Especialistas da organização devem auxiliar no restauro de obras de arte, móveis e prédios depredados.