Dia Global do Empreendedorismo Feminino é lançado em mais de 140 países
Por Sueli Melo
Na última quarta-feira, 19 de novembro, foi lançado, na sede da ONU, em Nova York, e em 144 países simultaneamente, o “Dia Global do Empreendedorismo Feminino”. A data é resultado de uma parceria entre a Semana Global do Empreendedorismo (SGE), maior movimento de empreendedorismo do mundo, a Fundação das Nações Unidas, o Departamento de Estado Americano e a Microsoft, entre outras empresas.
De acordo com Graziela Tanaka, diretora de campanhas da Change.org, uma das maiores plataformas de abaixo-assinados online do mundo, a data é importante porque culturalmente as mulheres não são incentivadas a serem empreendedoras. “Quando se pensa em profissões como economia, administração e tecnologia, percebe-se que ainda há uma discrepância muito grande das mulheres que procuram estas áreas em relação aos homens”, ressalta. “Mas esta é uma tendência que a gente tenta reverter. Este evento ajuda a mostrar que há diversas empresas, ONGs, projetos sociais e todo tipo de ações lideradas por mulheres.”
Machismo
Um dos maiores problemas neste cenário, segundo Graziela, ainda é o machismo. Para comprovar isso, diz, basta ir a um evento de empreendedores, por exemplo: é um universo dominado por homens. O mesmo acontece em painéis sobre tecnologia, conforme Graziela. “Já me vi em muitos eventos em que eu era a única mulher na mesa, pois havia a dificuldade de encontrar mulheres para falar sobre o tema.”
Graziela acrescenta que a sociedade continua a perpetuar essa cultura e que não há grandes exemplos femininos que incentivem as jovens que estão entrando na faculdade ou que estão escolhendo uma profissão, que determinada área está aberta para elas. “Esta ainda é uma das maiores dificuldades, o machismo. Há ambientes que são bem masculinos nos quais as mulheres não se sentem à vontade. Então a mudança precisa acontecer a partir de modelos, de exemplos, de uma presença feminina maior.”
Graziela chama a atenção para o fato de o brasileiro negar a existência do machismo. As próprias mulheres revelam que nunca foram discriminadas no trabalho, conta. É que isso, segundo ela, nem sempre é uma questão de discriminação explicita, às vezes é uma discriminação na forma de contratação e até mesmo a cultura organizacional pode contribuir negativamente nesta questão. Graziela exemplifica: “O ambiente é compatível com uma mulher que tem filho ou ela tem uma carga horária de trabalho de 12 horas diárias e naturalmente se exclui qualquer mulher com filho? Às vezes as culturas organizacionais acabam excluindo as mulheres porque acham que um homem vai trabalhar melhor e vai ter menos imprevistos, não vai levar o filho doente ao medico etc.”
Para Juliana Almeida Dutra, especialista em Gestão de Pessoas e Clientes e diretora executiva da Deep – Desenvolvimento e Envolvimento Estratégico de Pessoas e Clientes, o dia de celebrar será quando não precisarmos mais sermos lembradas como frágeis, como diferentes ou como profissionais que precisam de alguma ajuda ou qualquer dia especial. “Penso que o grande ganho será quando os gêneros forem valorizados pela sua contribuição individual agregando habilidades naturais, conhecimentos e atitudes pessoais. Por enquanto estamos celebrando o caminho, caminho este que em alguns momentos reforça ainda mais o preconceito. Não há dúvida de que o empreendedorismo feminino ainda é um ponto a ser vencido em todas as sociedades, cada uma delas apresentando uma característica diferente. Mas espero que ações como esta abram espaço para um futuro menos necessitado de lembretes”, afirma.
Políticas de contratação e licença à maternidade
É preciso, diz ainda Graziela, criar políticas de contratação voltadas para as mulheres. Ir atrás delas, por exemplo, em fóruns, grupos de discussão. “Nos Estados Unidos acontecem encontros de mulheres na tecnologia. Fazer essa ponte, às vezes, é um trabalho muito mais proativo do que simplesmente publicar uma vaga”.
A Change.org, conforme Graziela, tem uma política de incentivar a contratação de mais mulheres, inclusive na área de desenvolvedores, que fica em São Francisco, nos Estados Unidos. “Hoje há esse equilíbrio de gênero dentro da empresa que 50%”, afirma.
A plataforma anunciou há algumas semanas que vai dar licença à maternidade para homens e casais homoafetivos. “No Brasil já há uma política forte de licença à maternidade”, pontua. “Agora o homem vai poder participar, ajudando a mulher na casa e com o filho, dando muito mais suporte. Para alguns países como os Estados Unidos, por exemplo, isso é revolucionário – lá eles têm apenas duas semanas de licença remunerada para mulher”.