Empreendedora cria marca que exalta cultura afro-indígena
A marca é inspirada na cultura afro-indígena, produzida com tecidos africanos e nacionais, e promove a pluralidade dos corpos femininos
Por Laura Patta
Motivada pela dificuldade financeira da família, a administradora Ludmyla Oliveira criou sua própria marca de bolsas e acessórios, a Crioula Criativa. A marca criada pela carioca de 32 anos tem o objetivo de homenagear a cultura afro-indígena enfeitando as mulheres e respeitando suas singularidades.
A ideia surgiu quando sua mãe precisou parar de trabalhar. Ludmyla, que era estagiária, começou a vender as peças que já produzia por hobby. Com avó e bisavó costureiras, Ludmyla sempre gostou de moda, e, com a ajuda da mãe, Jacira, lançou a marca em 2016.
Em entrevista à Universa, Ludmyla contou que a ideia original era produzir apenas bolsas. No entanto, a produção passou a gerar muitas sobras de tecido que não podiam ser descartados como lixo comum. Por isso, ela decidiu expandir o negócio para incluir uma linha de acessórios. Os produtos são feitos com resíduos da própria loja, e também resíduos de outras marcas, que têm parceria com a loja.
O negócio teve um investimento inicial de 300 reais, que vieram do salário que Ludmyla ganhava trabalhando na área administrativa. Ela usou o dinheiro para comprar matéria-prima e dar início à loja.
À medida que Ludmyla começar a lucrar, ela passou a usar o dinheiro para ajudar a mãe e reinvestir na marca. Na época, ela ainda recebia um salário fixo, então pôde dar à marca um início financeiramente equilibrado.
Os produtos da Crioula Criativa seguem as cores da natureza e da cultura ancestral.
O racismo, embora não fosse um tema frequente na família, era sentido por Ludmyla. Ela explica que, durante a faculdade de moda, ela era uma das melhores da sala, mas não conseguiu um estágio na área porque era negra. “Ouvi exatamente isso, com todas as letras”, conta a jovem. Por isso, ela desistiu da moda e foi estudar administração.
Durante o processo de criação da marca, mergulhou nos estudos sobre a cultura afro-brasileira e se aproximou da religião umbandista. Dessa maneira, ela passou a valorizar suas origens. Ela deixou de alisar o cabelo e começou a estudar etnias.
Ela quis trazer a união afro-indígena para a marca. As roupas da loja usam tecidos africanos e nacionais.
A questão da pluralidade de corpos também é importante para a empreendedora, que tenta ter uma marca que represente diferentes mulheres.
Além disso, existe uma preocupação ambiental. Desde o início, a loja usa tecidos naturais de algodão, e utiliza todos os resíduos, para não desperdiçar matéria-prima.
Com o tempo, Ludmyla também desenvolveu ainda uma preocupação social. Ela percebeu uma falta de informação na questão financeira, pois as pessoas tinham dificuldade em precificar seus produtos. Por isso, em 2017, ela começou a fazer rodas de conversas com amigas empreendedoras sobre o assunto.
Em 2018, Ludmyla participou do AfroLab, o programa de aceleração da Feira Preta, que é o maior evento de cultura e empreendedorismo negro da América Latina. Foi lá onde ela conheceu Adriana Barbosa, a fundadora da Feira, que era uma inspiração para a jovem empreendedora.
Adriana a elegeu para falar de gestão financeira de forma oficial. Então, no ano seguinte, Ludmyla abriu um curso de costura com taxa social.
Com a chegada do coronavírus ao Brasil em 2020, Ludmyla viu um aumento no número de mulheres desempregadas na sua comunidade. Além disso, ela também ficou com muito medo da doença. Mas, em vez de se deixar tomar pelo medo, ela decidiu transformar a angústia em pesquisa.
Ela viu que fora do país as pessoas estavam criando máscaras de tecido. Então, Ludymila e a mãe deram uma pausa na produção da marca e decidiram ajudar aqueles que precisavam.
Inicialmente, elas produziram 250 máscaras de tecido para entregar para uma amiga levar para o hospital em que trabalhava. Mas a notícia se espalhou e a demanda cresceu rapidamente.
Ela não conseguia mais produzir o suficiente para a demanda. Então, teve a ideia de ensinar virtualmente como fazer as máscaras.
Na mesma época, a Shell abriu um edital para a Rede de Iniciativa Jovem e Ludmyla inscreveu um projeto no qual ela capacitaria mulheres para fazerem máscaras. Assim, ela capacitou 20 mulheres, e as costureiras produziram 10.500 máscaras, pelas quais foram remuneradas.
Hoje, a marca está estudando como voltar à ativa. Por enquanto, a Crioula Criativa segue presente digitalmente. Foi lançada a primeira campanha depois da pandemia, chamada ‘Brisa’.
Além disso, Ludmyla segue como voluntária em projetos de apoio ao empreendedorismo.
Fonte: Universa
Empreendedora faz sucesso com marca que exalta cultura afro-indígena - Observatório do Terceiro Setor - Jurnews
14/01/2022 @ 12:10
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