Escritora faz releitura do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ com lésbicas negras e idosas
Na obra, a boneca Emília só pode acordar a cada 50 anos em dia de Carnaval, e apenas o amor do casal de idosas permite que ela continue viva
Por: Mariana Lima
Em ‘Carnaval Amarelo’ (editora Viés), a mãe de Anastácia lhe dá uma boneca de presente no aniversário de 11 anos e conta uma lenda: “A boneca Emília acordará de 50 em 50 anos desde que seja um dia de Carnaval. E ela poderá continuar viva se encontrar o amor verdadeiro”. Então, no aniversário de 61 anos de Anastácia, algo inesperado acontece.
É deste ponto que nasce a narrativa da obra, escrita por Lívia Ferreira, de 27 anos. Mineira de Divinópolis, Lívia é lésbica e decidiu trabalhar na releitura de um universo desconfortável para pessoas negras.
A obra de Lívia é uma resposta ao ‘Sítio do Picapau Amarelo’, clássico da literatura infantojuvenil com 23 volumes publicados entre 1920 e 1947, e que apresenta trechos hoje considerados racistas.
Enquanto realizava a pesquisa, Lívia se deparou com diversos gatilhos nas descrições da Tia Nastácia. Na infância, essas situações lhe escapavam, mas a análise feita na vida adulta deixou marcas em sua percepção.
Nos últimos dois anos, Lívia já lançou seis obras, incluindo publicações em meio à pandemia.
Para Lívia, a escrita é um refúgio de tudo aquilo que não consegue verbalizar. No início da pandemia, ela estava finalizado a obra ‘No Olhar Invisível’ e precisou vencer um bloqueio criativo motivado pelo medo e o desemprego.
Formada em marketing e estudante de letras, no começo da quarentena Lívia trabalhava como analista de suporte técnico. A perda do emprego fez com que se dedicasse integralmente à carreira de escritora e expandisse seus canais de comunicação.
O resultado? mais de 70 mil leituras em páginas do Kindle e Wattpad e a venda de 5 mil e-books.
Com esse resultado, ela precisou tornar suas redes sociais mais profissionais. No Twitter e no Instagram, por exemplo, Lívia debate pautas raciais e LGBTQIA+ para seus mais de 12 mil seguidores. Seu posicionamento por meio de tweets e lives chamou a atenção de duas editoras, a Viés, que publica a versão física de ‘Carnaval Amarelo’ e a Editora Se Liga, que imprime em maio um novo trabalho de Lívia.
Em entrevista ao Universa, portal do UOL, Lívia celebra: “Uma lésbica preta foi a primeira a fazer uma releitura do ‘Sítio do Picapau Amarelo’ com lésbicas pretinhas idosas como protagonistas. ‘Carnaval Amarelo’ é um grito de que a história começará a mudar a partir de agora”.
Fonte: Universa | UOL