Estudo revela que as onças-pintadas estão sob ameaça no Brasil
O novo estudo do WWF, junto ao CENAP/ICMBio, revela áreas prioritárias para a proteção das onças-pintadas na Amazônia brasileira
Por Ana Clara Godoi
O estudo “Ameaças antropogênicas iminentes e priorização de áreas protegidas para onças-pintadas na Amazônia brasileira” aponta 10 áreas prioritárias para a conservação das onças-pintadas, espécie que está sob ameaça na Amazônia brasileira. A pesquisa revela que, somente em áreas desmatadas com pastagens de gado, podem ser mortas até 150 onças-pintadas e suçuaranas anualmente por meio de carcaças envenenadas e perseguição direta por caçadores.
Realizada pelo WWF Brasil e o Centro Nacional de Pesquisa e Conservação de Mamíferos Carnívoros, a pesquisa analisou 447 terras protegidas do bioma, incluindo 330 reservas indígenas e os tipos de ameaça, como densidade populacional humana, estradas, pastagens, focos de incêndio, desflorestação e áreas de mineração. A área corresponde a 1.755.637km², o que representa 41,7% da Amazônia brasileira, e abriga mais de 26 mil onças-pintadas. De acordo com o estudo, somente as áreas indígenas possuem 63,2% do número total da espécie.
O estudo identificou 10 principais áreas protegidas – as Terras Indígenas Apyterewa, Araribóia, Cachoeira Seca, Kayapó, Marãiwatsédé, Parque do Xingu, Uru-Eu-Wau-Wau, Yanomami, a Estação Ecológica da Terra do Meio e o Parque Nacional Mapinguari – que deveriam ser priorizadas para esforços imediatos de conservação da onça-pintada e 74 áreas adicionais que deveriam ser priorizadas para ações a curto prazo. Muitas delas estão localizadas na fronteira de áreas de desmatamento ou em fronteiras importantes com países vizinhos (por exemplo, a Amazônia peruana, colombiana e venezuelana) e estão entre as mais pressionadas pelo desmatamento, incêndios, e outras ameaças com necessidade de ação urgente.
Como elas ocupam uma área de centenas de quilômetros quadrados, a preservação das onças pintadas no longo prazo exige um planejamento em grande escala, com redes eficazes de áreas protegidas (AP) e corredores de conectividade. Ao conservar as onças-pintadas e os seus habitats, geram-se benefícios mais vastos para a biodiversidade, bem como para as comunidades locais que dependem de florestas saudáveis, uma vez que as onças-pintadas são classificadas como uma espécie emblemática e guarda-chuva.
“O futuro das onças-pintadas, mesmo nas regiões neotropicais mais intactas, como a Amazônia, só é seguro em áreas protegidas onde as restrições de uso do solo podem ser rigorosamente aplicadas e só se for possível resistir à pressão política incessante para reduzir o tamanho, recategorizar e extinguir as áreas protegidas. Estes espaços são centrais para a salvaguarda da biodiversidade, mas estão sob múltiplas pressões geopolíticas” diz Marcelo Oliveira, coautor do estudo, especialista em Conservação e líder programa de proteção de espécies ameaçadas do WWF-Brasil.
A iniciativa ainda aponta como principais recomendações o aumento do financiamento e apoio às áreas protegidas e terras indígenas, especialmente as priorizadas pelo estudo; apoio, financiamento e mandato para agências ambientais como o IBAMA e o ICMBio, que sofreram cortes significativos nos últimos anos; e políticas públicas que não deixem espaço para a redução, recategorização e extinção das áreas protegidas. A ação contribui diretamente para o ODS (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) 15, meta da Agenda 2030 da ONU que promove a proteção, recuperação e uso sustentável dos ecossistemas terrestres.