Evento de Páscoa na AACD reúne atletas e incentiva crianças a superar barreiras impostas pela deficiência
Um dos esportistas a contar sua história foi Daniel Dias, maior nadador paralímpico brasileiro
Na última segunda-feira (30), as crianças atendidas na unidade Ibirapuera da Associação de Assistência à Criança com Deficiência (AACD) ganharam de presente de Páscoa exemplos de superação, numa festa em que atletas paralímpicos e da AACD Esporte compartilharam experiências de vida com os pequenos e suas famílias, mostrando que é possível superar as barreiras impostas por uma deficiência.
Entre as presenças de destaque estava o atleta Daniel Dias, maior nadador paralímpico da história do Brasil. Foram 15 medalhas conquistadas nas Olimpíadas de Pequim (2008) e Londres (2012), das quais dez são de ouro. Além disso, ele já recebeu duas vezes o Prêmio Laureus de Para-Atleta do Ano, considerado o “Oscar” do esporte mundial.
Dias nasceu sem os pés e as mãos e foi atendido desde criança pela AACD. Hoje, ele é um esportista reconhecido internacionalmente e uma inspiração para crianças que, como ele, precisam enfrentar as adversidades causadas por uma limitação física.
“Eu, quando criança, fiz a escolha de ser feliz, de ir atrás dos meus sonhos. Acho que cada um pode fazer suas escolhas. Problemas e dificuldades, todos nós temos, independentemente de termos uma deficiência ou não, mas a gente pode fazer a escolha de ser diferente”, diz.
Para o atleta, é gratificante saber que muitas pessoas – crianças e adultas – o veem como um exemplo de superação. “Acho que nós estamos carentes de bons exemplos e eu fico feliz de ser um para muitos aqui. Eu sofri preconceito e sei que eles também sofrem, mas quero ajudá-los a entender que a escolha tem que ser nossa.”
A nadadora Carmelita Maria dos Santos, ou Carmen, como prefere também contou sua história. Carmen ficou paraplégica em 2007, após receber uma facada do então noivo dela. À época, ela nem sabia nadar. Foi durante a fase de reabilitação, na AACD, que ela descobriu que tinha potencial para ser atleta. “Quando eu fiz a reabilitação aquática, viram que eu levava jeito para nadar, me incentivaram e há mais ou menos um ano e meio me profissionalizei. Hoje, eu já tenho 22 medalhas”, conta, satisfeita.
Para Carmen, é um orgulho poder falar de sua experiência com as crianças atendidas pela AACD, pois ela espera mostrar que qualquer pessoa é capaz de realizar seus objetivos. “Muita gente com deficiência, seja de nascença ou por acidente, não se envolve com o esporte porque acha que não seria capaz. Um evento assim mostra que todo mundo é capaz.”
Marcelo Silveira Bueno, que ficou paraplégico por causa de um tiro na coluna e há vários anos joga tênis de mesa, também acredita que a importância do evento está em mostrar para os pequenos que eles podem ser o que quiserem, independentemente dos desafios que surgirem pela frente.
Um desses pequenos que pretende ser atleta é Adrian, de sete anos. O garotinho não tem as mãos, mas já sabe que esporte quer praticar no futuro: futebol. “Eu estou incentivando ele a fazer natação, mas ele quer mesmo é futebol”, brinca Ana Paula Graciano da Silva, mãe de Adrian.
Débora Silva, mãe de Pedro Henrique, de apenas um ano, nem suspeita o que o filho desejará ser quando crescer, mas acredita a cada dia mais que ele poderá ser o que quiser, mesmo tendo nascido com osteogênese imperfeita, ou ossos de vidro. “Muitas vezes, a gente acha que uma deficiência impede, mas eu vejo o exemplo deles [atletas] e sinto que é um motivo a mais para lutar. Eles servem como um espelho para a gente”, afirma.
E Débora não foi a única mãe que saiu mais animada da festa. Ivanete Brito, mãe de João, de 12 anos, um garoto com paralisia cerebral que é atendido pela AACD desde os sete anos e que já passou por várias cirurgias, também saiu mais sorridente. “A gente vive cheio de problemas, de tristezas. Um evento assim é bom para animar a gente um pouquinho”.
O evento contou ainda com uma dupla de cirurgiões cantando música sertaneja, coelhos tirando fotos e ovos de páscoa doados pela Lacta, que foram entregues às crianças pelos esportistas presentes.