Filantropia: ciência é uma das causas que menos recebe investimento
A ciência recebe pouca atenção do investimento social privado no Brasil; em entrevista ao Observatório do Terceiro Setor, o professor da USP Guilherme Ary Plonski explica por que a filantropia deve dar destaque a esta causa
Da Redação
A ciência e a filantropia andam lado a lado em busca do progresso social. Enquanto a filantropia fornece recursos para os estudos científicos, a ciência oferece soluções comprovadas para os mais diversos problemas enfrentados pela sociedade. No Brasil, no entanto, o diálogo entre as duas comunidades é insuficiente.
Segundo o Censo GIFE 2023, a ciência foi uma das áreas que recebeu menor valor de investimento social privado no ano de 2022. Em entrevista para o Observatório do Terceiro Setor, o professor Guilherme Ary Plonski, diretor do Instituto de Estudos Avançados da USP, explica que devido aos altos níveis de desigualdade social, as entidades filantrópicas brasileiras destinam mais recursos às causas urgentes, como educação e saúde, deixando a ciência de lado.
“Precisamos, sem prejudicar outras causas, mostrar que essa é uma causa igualmente importante, que o processo de desenvolvimento do Brasil passa pela ciência e portanto, ao apoiar a pesquisa no campo da ciência, indiretamente você está também apoiando a redução de defasagens sociais, econômicas e ambientais”, afirma o professor.
Para chegar ao cenário ideal, onde a ciência recebe tanto investimento quanto outras causas sociais, o professor julga necessário colocar as duas comunidades em conversa, destacar o trabalho de instituições científicas e, principalmente, garantir que haja investimento além do poder público.
“No Brasil, o apoio à ciência tem sido dado pelo setor público: fundações, governo federal e estadual. Mas como vimos particularmente na gestão federal anterior, às vezes o pessoal pisa no tubo de oxigênio. Precisamos ter fontes alternativas de recursos, não ficar dependendo só do governo. A ciência é importante para todo mundo, então é algo que a sociedade inteira deve contribuir”, explica Ary Plonski.
1º Seminário Internacional “Ciência encontra a Filantropia
Para promover o diálogo entre as comunidades científica e filantrópica, tanto no Brasil quanto no cenário internacional, a Fundação José Luiz Egydio Setúbal (FJLES) e a Universidade de São Paulo realizarão, no dia 16 de abril, o 1º Seminário Internacional “Ciência encontra a Filantropia”. O evento contará com representantes de universidades, instituições de pesquisa, entidades filantrópicas, autoridades governamentais e pesquisadores engajados na causa.
O Seminário tem como objetivo estimular a colaboração entre as comunidades científicas e filantrópicas do Brasil; criar canais de comunicação diretos com organizações internacionais líderes em filantropia científica; divulgar o projeto GEMA Filantropia, buscando ampliar a rede de colaboradores e apoiadores.
O investimento no campo científico está alinhado aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU.