Filho gerado em estupro ajuda mãe a colocar os agressores na prisão
Com o incentivo do filho, décadas depois a mulher procurou as autoridades para registrar o crime. O advogado entrou com recurso no tribunal e, por ordem do chefe do magistrado judicial de Shahjahanpur, foi aberto um processo contra os dois acusados em março de 2021. Este ano os culpados foram presos pelo crime.
Uma mulher indiana foi estuprada durante seis meses por dois homens quando tinha apenas 12 anos, no estado de Uttar Pradesh, no norte do país. O nome da mulher foi mantido em sigilo pelas autoridades do país para não sofrer ameaças. A vítima ficou gravida e seu filho, décadas depois, ajudou a mãe a colocar seus agressores na prisão.
A vítima do estupro em Uttar Pradesh, disse que os ataques ocorreram em 1994, na cidade de Shahjahanpur. Os acusados, Mohammed Razi e seu irmão Naqi Hasan, moravam no bairro da vítima e pulavam o muro da casa dela e a atacavam sempre que estava sozinha.
A gravidez só foi descoberta quando a saúde da jovem começou a piorar e a irmã a levou ao médico. O médico descartou o aborto por causa da sua saúde frágil e pouca idade. Imediatamente após o nascimento, o bebê foi entregue para adoção.
“Eu sofri tanto por essa criança, mas nem tive a chance de ver seu rosto. Quando perguntei à minha mãe, ela disse: ‘Agora você terá uma segunda chance na vida’.”
A vítima e a família não registraram queixa na polícia na época porque a mulher disse que vivia com medo dos acusados.
“Eles ameaçaram matar minha família e incendiar nossa casa se eu contasse a alguém sobre o estupro”, afirma. “Meu sonho era entrar para a polícia quando crescesse, mas por causa dessas duas pessoas, todos os meus sonhos acabaram. Perdi a escola. Não pude estudar.”
Ela se mudou posteriormente com a família para o distrito de Rampur, numa tentativa de fugir das memórias traumáticas associadas à casa anterior. Em 2000, se casou e teve um segundo filho.
Ela esperava que esse novo capítulo a ajudasse a esquecer o passado, mas seis anos depois do casamento, seu marido descobriu sobre o estupro e a culpou por isso.
Depois de ser expulsa de casa junto com o filho, ela foi morar com a irmã e a família dela.
Seu primeiro filho, que foi entregue para adoção, também enfrentou muita discriminação por causa de sua identidade. Treze anos após mãe e filho terem sido separados, os pais adotivos devolveram a criança à mãe biológica.
Mas o menino ansiava por saber quem era seu pai. Como não tinha sobrenome — na Índia, geralmente é o nome do pai —, as crianças o ridicularizavam na escola. Inicialmente, a mãe diz que o repreendeu por fazer perguntas, mas, por fim, cedeu e contou a verdade.
Em vez de ficar chocado, o filho se transformou em seu maior aliado, dizendo que ela tinha que “travar essa batalha e ensinar uma lição aos acusados”.
“Se você falar sobre o que aconteceu, talvez mais pessoas façam isso também. Isso fortalecerá nosso caso, e os acusados ??serão punidos. Uma mensagem será enviada à sociedade de que ninguém pode ser salvo depois de cometer um crime.”
Com o incentivo do filho, a vítima revisitou Shahjahanpur em 2020, mas achou difícil registrar uma ocorrência contra os acusados.
Como a polícia estava se recusando a registrar sua queixa porque era muito antiga, ela procurou um advogado. Ele também se mostrou relutante, dizendo que seria difícil levar à justiça um caso que já tinha quase três décadas.
O advogado entrou com um recurso no tribunal e, por ordem do chefe do magistrado judicial de Shahjahanpur, foi aberto um processo contra os dois acusados ??em março de 2021.
Embora os acusados tivessem sido localizados, não havia provas para ligá-los ao crime. A polícia afirma que as evidências vieram dos testes de DNA feitos em fevereiro.
“Este caso foi absolutamente inesperado. Quando a mulher se apresentou e abriu um processo, ficamos bastante surpresos. Mas nos arriscamos e coletamos amostras de DNA do filho dela”, diz S Anand, superintendente sênior da polícia de Shahjahanpur, à BBC.
“Em seguida, coletamos amostras de DNA dos acusados e fizemos o teste. Uma delas correspondia às amostras de DNA do filho”, acrescentou o inspetor Dharmendra Kumar Gupta, que vem investigando o caso desde o ano passado.
Em 31 de julho, um dos acusados foi preso e, na última quarta-feira, a polícia disse que também tinha o segundo homem sob custódia. Os acusados ainda não comentaram as denúncias contra eles.
A mulher quer que sua história inspire outras pessoas a denunciar crimes cometidos. O filho está muito feliz pela mãe e espera que o caso inspire mais vítimas a denunciar o crime.
Estupros Brasil
No Brasil o estupro de crianças é um grave problema enfrentado pela país, mas infelizmente ignorado pelas autoridades brasileiras. Uma em cada três vítimas de estupro no Brasil tem até 11 anos de idade, o que representa 36% do total de vítimas do país. A maior parte das vítimas são menores de idade. Das denúncias registradas na Ouvidoria Nacional este ano, 77% das vítimas tinha menos de 18 anos — são 6.067 casos de um total de 7.832 registrados até o dia 21 de junho.
A Ouvidoria Nacional, do MMFDH, recebe denúncias diariamente, 24 horas por dia, incluindo sábados, domingos e feriados. As denúncias podem ser feitas por meio do aplicativo Proteja Brasil, disponível para iOs e Android, e pela Ouvidoria Online, que disponibiliza um formulário no site. Elas também podem ser feitas pelo Disque 100, uma discagem gratuita que pode ser feita de qualquer telefone fixo ou aparelho celular. As denúncias podem ser anônimas.
Atualmente, diferentes organizações do terceiro setor atuam na proteção de crianças e adolescentes em situações como violências sexuais e violação dos direitos. Orientando e fornecendo apoio às vítimas está o Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Yves de Roussan (Cedeca), Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos na Infância (CRAMI), Childhood Brasil.
Fonte: BBC Brasil