Grávida, Rita Lee foi presa pela Ditadura Militar no Brasil
Rita Lee, morta na última segunda-feira (08/05), aos 75 anos, foi presa grávida de seu primeiro filho, em 1976, pela ditadura militar
Rita Lee, morta na última segunda-feira (08/05), aos 75 anos, foi presa grávida de seu primeiro filho, em 1976, pela ditadura militar. A artista sempre bateu de frente com o regime – fosse nas músicas ou nas atitudes e comportamentos em cima do palco e a luta pela liberdade feminina no Brasil. Inclusive, ela foi a “artista brasileira mais censurada” durante a ditadura militar no país.
A prisão, aos 28 anos, segundo os policiais, foi motivada por um flagrante de maconha em seu apartamento em São Paulo. Em 2010, em entrevista à revista Quem, Rita revelaria que a droga foi “planada” pela polícia. Na época, ela garantiu que a droga não era sua e que ela tinha parado de fumar porque estava grávida. Mas os agentes não deram ouvidos.
Naquela época, as polícias estavam comprometidas com uma guerra declarada a usuários de drogas. Hippies eram tratados como bandidos e, segundo a cantora, ela foi usada de troféu. Rita simbolizava a liberdade sexual feminina em um período muito conservador do país.
De início, ela ficou no Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic). Foi lá que, no segundo dia de xadrez, apareceu ninguém menos que Elis Regina levando pela mão o filho João Marcello Bôscoli, então com 6 anos.
— Quando o carcereiro falou: ‘Ô, Ovelha Negra, tem uma cantora famosa rodando a baiana, dizendo que vai chamar a imprensa. Ela quer te ver’, fiquei esperando, não sei, uma Nossa Senhora do Rock, e, de repente, vejo a Elis com o João Marcelo. Ela soltou a mão do filho e me deu um abraço. Perguntou como eu estava, disse que eu estava muito magra. Aí começou a falar duro com os policiais: ‘O que vocês estão fazendo com ela?’ — relembrou Rita em live com Ronnie Von, em novembro de 2020, durante o período mais tenso da pandemia de Covid-19.
— O que ela berrou, o que ela aprontou lá dentro… E você pensa que os caras falavam alguma coisa? Não falavam nada. Ela baixinha cobrando: ‘Eu quero um médico já. Se não vier já, eu chamo a imprensa’. Ninguém mexia com a Elis. Ela era do Olimpo. Que mãezona! Mandou que comprassem comida para mim, deu dinheiro e ainda pediu troco (risos). Ela me ajudou como se fosse uma amiga de infância — completou a artista.
Em entrevista ao GLOBO de novembro de 1976, a cantora disse que, apesar da acolhida das outras detentas, viveu momentos de muita tristeza na cadeia, sem saber quando sairia dali.
— Se eu não estivesse grávida, acho que não suportaria. Ele me deu muita força naquele momento de desespero — disse, na época.
Depois das duas semanas que passou na cadeia, Rita foi condenada a um ano de prisão domiciliar e multa de 50 salários mínimos. Mesmo após esse momento de muita tristeza, Rita não abaixou a cabeça e seguiu com suas marcas registradas: o deboche e a irreverência. Em seu primeiro show de volta ao mundo fora das grades, ela se vestiu com um figurino que imitava uma roupa de presidiária.
Fonte: O Globo