História em quadrinhos discute a automutilação entre jovens
‘Por Enquanto’ conta a história de uma uma menina que pratica a automutilação. Obra é um spin-off de livro que aborda questões ligadas ao bullying
Por: Mariana Lima
Vanessa Bencz tinha 13 anos quando se mutilou pela primeira vez. Na época, ela achava que merecia aquilo. Havia ido mal em matemática. Decepcionaria os pais. Ficou com uma cicatriz fina e dolorida. Sua pele machucada representava como se sentia por dentro.
Anos se passaram, e Vanessa conseguiu tratar seu transtorno. Formada em jornalismo, ela resolveu utilizar as histórias em quadrinhos (HQs) para falar sobre automutilação, bullying e suicídio com os jovens.
Sua 1ª HQ foi ‘A Menina Distraída’, lançada em 2014 a partir de uma campanha de financiamento coletivo. Na obra, a personagem Leila é vítima de bullying na escola. Fazendo desenhos para se distrair, Leila cria a heroína perfeita: a Mulher Raio.
Para enfrentar o valentão da escola, Leila resolve assumir características da personalidade da Mulher Raio, e enfrentar o garoto e suas próprias limitações.
Em 2017, Vanessa iniciou outro financiamento coletivo para lançar uma segunda HQ, sobre automutilação, em parceria com a ilustradora Yasmin Moraes. O projeto deu certo e a obra ‘Por enquanto’ foi lançada.
A história tem como protagonista Ana, umas das coadjuvantes da 1ª HQ. Com 16 anos, Ana utiliza um canivete para lidar com suas dores. Ela enfrenta problemas familiares, principalmente com o padrasto.
Em entrevista ao portal Lunetas, Vanessa comentou sobre as motivações que a levaram a produzir a história.
“Resolvi fazer um livro para que a questão da automutilação seja debatida nas escolas – e para que os leitores encontrem conforto e superação. Tenho interesse também que pais e mães tenham acesso a este material para ficarem atentos”.
Entre alguns dos sinais que alertam para a automutilação – ato de machucar o próprio corpo intencionalmente para aliviar a dor emocional – estão: alterações de humor, isolamento, e o uso de mangas compridas mesmo no calor (pode indicar uma tentativa de esconder as lesões).
Em sua entrevista para o Lunetas, Vanessa relatou já ter ouvido relatos de crianças de 8 anos que já se cortavam. Muitas não chegam a pedir ajuda.
“Em muitos casos, elas já pediram atenção aos pais (talvez de uma forma pouco óbvia) e não foram ouvidas. Isso porque somos uma cultura que dá nomes pejorativos a esses pedidos de ajuda: manha e chilique são alguns deles”.
Vanessa tornou-se ativista social em busca de paz nas escolas e desde 2012 realiza palestras sobre empatia em diversas regiões do país.