Inspirada na história de sua filha, mãe funda organização para deficientes visuais
Fundada em 1991, a Laramara já atendeu mais de 12 mil famílias e conta com uma série de projetos para o atendimento de deficientes visuais
Por Ana Clara Godoi
A deficiência visual acomete mais de 6,5 milhões de pessoas no Brasil e abrange tanto a perda total como a redução da capacidade de visão em ambos os olhos. Motivados pela filha que ficou cega devido à retinopatia da prematuridade, o casal Victor e Mara Siaulys fundou a Laramara (Associação Brasileira de Assistência à Pessoa com Deficiência Visual) com objetivo de ser um centro de referência na pesquisa da deficiência visual e oferecer serviços que atendam às necessidades de uma pessoa com deficiência.
“O trabalho da Laramara começou com crianças de 0 a 6 anos, sendo estendido a outras faixas etárias no decorrer dos anos e com a devida ampliação das atividades para cada grupo de atendimento. Entre 1996 e 1997, com novas demandas, expandimos o projeto educacional, desenvolvendo programas e atividades com foco no mundo do trabalho, nas artes e cultura para jovens e adultos. Com isso, nasceram os Programas de Preparação para o Trabalho e de Expressão Artística, atualmente reunidos no Programa de Jovens e Adultos”, comenta Mara Siaulys, fundadora e presidente da instituição.
“Com pioneirismo, trouxemos para o país a fabricação da máquina braille e bengala longa, fundamentais para a educação e reabilitação dos deficientes visuais. Por meio de nossa atuação, firmamos parceria com empresas privadas e organismos públicos para entregar um número significativo desses equipamentos, para famílias carentes de todo o Brasil”.
A instituição conta hoje com o trabalho de 107 profissionais e 30 voluntários, e beneficia diretamente de 1.200 a 1.500 pessoas a cada ano. Ao longo de sua atuação, a associação já auxiliou mais de 12.000 famílias por meio de seus programas, capacitações externas e doações, realizando, em média, 3.500 atendimentos por mês.
Desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual no país
São muitos os desafios enfrentados pelas pessoas com deficiência visual no Brasil. No âmbito de mobilidade, por exemplo, as barreiras nas calçadas e a falta de piso tátil nas cidades prejudicam a locomoção dessas pessoas. Já na internet, a acessibilidade digital ainda está longe de se tornar uma realidade concreta: um estudo da Web Para Todos, por exemplo, mostra que dos sites existentes no Brasil, apenas 0,7% são considerados, de fato, inclusivos. Por sua vez, na educação, apenas 5% dos livros em todo o mundo são transcritos para o Braille, sistema de escrita e leitura tátil para pessoas com deficiência visual – de acordo com a União Mundial de Cegos, em países mais pobres, esse percentual cai para 1%.
Para contribuir com a superação deste cenário, a Laramara desenvolve uma série de projetos, incluindo ações de enfrentamento da segregação; ações sociopolíticas na defesa e garantia de direitos; apoio no processo de inclusão escolar e em atividades culturais, de esporte e lazer; programas que discutem questões do mundo do trabalho e empregabilidade; inclusão nos espaços socioculturais, comunitários e de acesso à informação; além de uma série de palestras, lives, participação em congressos, encontros, consultorias e voluntariado.
A Laramara conta ainda com brinquedoteca, o espaço para leitura em braile Cantinho Feliz e uma área completa de tecnologia que oferece uma série de produtos para autonomia e independência dos deficientes visuais, incluindo softwares de voz para navegação na internet e uso de todas as funções dos computadores da instituição.
Todas os serviços da organização estão alinhados aos ODS 3 e 10 da Agenda 2030 da ONU, que dizem respeito, respectivamente, à saúde e bem-estar e a redução das desigualdades.