Internatos: corpos de crianças indígenas encontrados comovem o Canadá
Nas últimas semanas, foram encontrados os restos mortais de 1.100 crianças indígenas em terrenos de antigos internatos do Canadá. Locais tinham como missão separar essas crianças de suas famílias, suas línguas e cultura
Há meses o Canadá vive uma mistura de comoção e revolta com o descobrimento de corpos e restos mortais de crianças indígenas em antigos internatos que tinham como missão separar essas crianças de suas famílias, suas línguas e cultura. Cerca de 150 mil crianças ameríndias, mestiças e inuítes foram matriculadas à força nessas escolas.
A descoberta mais recente de corpos ocorreu no antigo internato da St. Eugene’s Mission, que funcionou de 1912 a 1970. Administrado por congregações católicas, ele recebeu 5 mil menores procedentes de grupos nativos da Colúmbia Britânica e Alberta.
A reserva indígena Lower Kootenay, no Canadá, anunciou a descoberta de 182 túmulos não identificados no terreno onde funcionava o internato para crianças indígenas da St. Eugene’s Mission, na localidade de Cranbrook (leste da província da Colúmbia Britânica, a 850 quilômetros de Vancouver). O achado se soma a outros dois realizados nas últimas semanas, e já são mais de 1.100 os restos de menores indígenas encontrados.
“Acreditamos que estas 182 almas pertencem à nação Ktunaxa, às Primeiras Nações vizinhas e à comunidade Aqam”, declarou em nota Jason Louie Pierre, chefe dessa reserva. Louie Pierre acrescentou que sua comunidade “tem sobreviventes da escola da St. Eugene’s Mission”, por isso pede respeito ao público em geral nestes duros momentos. Uma centena de crianças pertencentes a essa comunidade indígena foi obrigada a viver naquele centro educacional.
Milhares de crianças morreram em internatos — e seus corpos raramente voltavam para casa. Muitas foram enterradas em sepulturas abandonadas.
Até hoje não há um panorama completo do número de crianças que morreram, das circunstâncias de suas mortes ou de onde estão enterradas.
Uma pesquisa da Comissão da Verdade e Reconciliação descobriu que abusos físicos e sexuais levaram muitas crianças a fugir. Outras morreram vítimas de doenças ou acidentes em meio à negligência. Além disso, segundo relatos, bebês gerados por abusos eram jogados no forno logo após seu nascimento.
Em 1945, a taxa de mortalidade infantil em colégios internos era quase cinco vezes maior do que a de outras crianças canadenses em idade escolar. Na década de 1960, a taxa ainda era o dobro em relação à população estudantil em geral.
Fonte: El País