Mais de metade das famílias brasileiras está nas classes D e E
Nos últimos 10 anos, cresceu a quantidade de famílias brasileiras nas classes D e E. Hoje são 37,7 milhões de domicílios nessas faixas de renda – 51% do total
O Brasil ficou mais pobre nos últimos dez anos. Entre 2012 e 2022, os domicílios brasileiros que integram as classes D e E aumentaram de 48,7% do total para 51%, segundo um levantamento realizado pela consultoria Tendências. Em números absolutos, são 37,7 milhões de domicílios.
O país não tem um critério único para classificar as classes de renda. Pelo levantamento da Tendências, as classes D e E são compostas pelos domicílios com renda mensal de até R$ 2,8 mil.
Nesse levantamento de 10 anos, a piora da mobilidade social mostra um importante revés para o Brasil. Desde o início dos anos 2000 até meados da década passada, o país viu o fortalecimento da classe C e parecia, enfim, se consolidar como uma economia de classe média.
Em 2021, com o agravamento da crise sanitária, e a falta de auxílio emergencial para muitos, a fatia de domicílios nas classes D e E chegou a 51,6%. A ligeira melhora que será observada neste ano será fruto de um mercado de trabalho um pouco mais favorável.
O casal Steffany Aparecida Neves Prado, de 30 anos, e Juliano Prado Silva, de 31, chegou a ter uma renda conjunta mensal superior a R$ 3 mil. Ele trabalhava com o pai, como auxiliar de marceneiro, e ela era vendedora numa loja de roupas.
Hoje, o cenário é completamente diferente. Desempregados, os dois vivem de bicos. Juntos, conseguem uma renda mensal de R$ 400. “Quando aparece um bico, a gente vai correndo”, diz Steffany, que hoje faz faxina num consultório odontológico.
“Eu posso falar que a nossa vida já esteve melhor, bem melhor. A gente já teve carro e tudo dentro de casa. Hoje, estamos sem geladeira. Vivemos de doação de cesta básica”, afirma.
Os dois moram na Freguesia do Ó, zona norte de São Paulo, e são pais de três casais de gêmeos. Por dia, gastam um quilo de arroz e um quilo de feijão para alimentar toda a família.
“O dinheiro do bico vai para comprar arroz, feijão, mistura, essas coisas baratas. Faz tempo que não entra carne dentro de casa. Se for comprar um quilo de carne, vou deixar R$ 100 no mercado”, diz ela.
Com uma renda baixa, a família de Steffany vai acumulando dívidas – o atraso na conta de luz já soma cerca de R$ 9 mil. “Não pago aluguel porque moro na casa da minha sogra e não tenho como pagar outras contas. A internet também está cortada.”
A informalidade é muito mais comum nas classes D e E e, portanto, elas têm uma renda bastante volátil. Na pandemia, os informais foram um dos grupos mais afetados com o fechamento de serviços e comércios para evitar a propagação da doença e, consequentemente, não colapsar os hospitais.
Os domicílios das classes D e E costumam ser compostos por muitos integrantes, sendo apenas uma pessoa a responsável por trazer alguma renda.
Uma melhora do quadro da desigualdade do Brasil não deve ocorrer tão cedo, segundo a avaliação dos especialistas.
Nos próximos anos, a expectativa é que a economia brasileira colha um baixo crescimento econômico, dificultando um fortalecimento do mercado de trabalho e, consequentemente, da mobilidade social.
Em 2022, os analistas consultados pelo relatório Focus, do Banco Central, estimam uma alta de apenas 0,29% do Produto Interno Bruto (PIB). Em 2023, a economia brasileira deve crescer 1,75% e, nos dois anos seguintes, avançar 2%.
Fonte: g1