Mesmo com leitos vazios, hospitais militares não atendem civis com covid
Só em 2020, o Ministério da Defesa empenhou 3,3 bilhões de reais na operação de seu sistema hospitalar
Um levantamento feito pela revista Piauí, com base em dados do orçamento federal, mostra que, em 2020, o Ministério da Defesa empenhou 3,3 bilhões de reais na operação de seu sistema hospitalar. Em 2019, haviam sido empenhados 3,2 bilhões.
A maior parte do dinheiro serviu para custear unidades de saúde do Exército, e o restante se dividiu entre Marinha, Aeronáutica e o Hospital das Forças Armadas, em Brasília.
Além desse orçamento bilionário, a Defesa teve direito a um crédito extra de 531 milhões de reais para o combate à pandemia, dos quais 511 milhões já foram usados.
Parte desses recursos também foi investida em hospitais militares, como o de Manaus. Outra parte foi usada pelo Ministério da Defesa para comprar camionetes e fazer a manutenção de aviões.
As Forças Armadas têm 42 hospitais militares espalhados por todas as regiões do país. Segundo o Ministério da Defesa, eles atendem exclusivamente a 1,8 milhão de membros da “família militar” – grupo que compreende os militares da ativa, inativos, pensionistas, seus dependentes e servidores civis ligados às Forças.
Os militares contribuem todo mês para manter esse sistema de saúde, mas o restante do dinheiro provém do governo federal.
Só em 2021, o Ministério da Defesa destinou 3,7 milhões de reais das verbas reservadas à pandemia para equipar o Hospital das Forças Armadas.
Apenas nos primeiros meses de 2021, o valor já é seis vezes maior do que os 505 mil reais empenhados em 2020.
O hospital serviu ao alto escalão do governo: Jair Bolsonaro, Hamilton Mourão, Eduardo Pazuello e Augusto Heleno. Todos receberam atendimento exclusivo das Forças Armadas quando foram diagnosticados com Covid, no ano passado.
Hospitais das Forças Armadas no Amazonas, por exemplo, estavam em fevereiro com mais da metade dos leitos para a covid-19 vagos, à espera de eventuais adoecimentos de militares ou familiares.
No dia 17 de março, após a publicação de reportagem do UOL sobre os hospitais militares, o ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) Benjamin Zymler editou uma medida cautelar dando prazo de cinco dias úteis para que as Forças Armadas tornassem público, na internet, o número de leitos ocupados e disponíveis em suas unidades.
Os militares pediram prazo mais longo, e o tribunal concedeu dez dias úteis a partir de 24 de março. Como a semana inclui um feriado, os militares terão até 11 de abril para tomar as medidas determinadas pelo TCU.
No dia 25 de março de 2021, 6.370 pacientes com Covid estavam à espera de um leito de UTI em todo o Brasil.