Nota técnica liga desmatamento a novas epidemias
Documento divulgado pela WWF-Brasil alega que a atual pandemia de Covid-19 é, provavelmente, resultado da pressão humana sobre a natureza. Degradação ambiental tem relação com futuras epidemias
Por Iara de Andrade
Recente nota técnica “O que as florestas e o desmatamento têm a ver com nossa saúde”, elaborada e divulgada pela WWF-Brasil, entidade que atua no combate à degradação socioambiental, liga o desmatamento a novas epidemias.
De acordo com o documento, um aumento de 10% no desflorestamento pode provocar, por exemplo, uma incidência também maior de malária (3,3%). Pesquisas na Amazônia peruana indicaram uma maior existência de larvas em poças d’água parcialmente abrigadas do sol e em acúmulos de água entre detritos que não é consumida pelas árvores.
O texto também indica que a incidência de fumaça tóxica decorrente de intensas queimadas na Amazônia representa 80% do aumento regional da poluição por partículas finas, afetando 24 milhões de pessoas, elevando as taxas de mortalidade cardiorrespiratória e causando danos genéticos relacionados ao desenvolvimento de câncer de pulmão.
A grande diversidade de roedores, primatas e morcegos em florestas tropicais tende a aumentar o risco de surgimento de novas doenças ocasionadas pela degradação dos habitats e da proximidade das populações impulsionada pela expansão da agropecuária.
A nota técnica alega que a atual pandemia de Covid-19 é, provavelmente, resultado da pressão humana sobre a natureza. À exemplo do Ebola, MERS, SARS e zika, dois novos vírus contaminaram pessoas a partir de hospedeiros animais durante o último século. Além disso, também é dito que as queimadas podem ter aumentado o risco de infecção pela resposta inflamatória persistente que elas provocam.
Em entrevista ao Observatório do Terceiro Setor, no programa de rádio Perspectiva, sobre a quarta onda de Covid-19, o professor titular do Instituto de Química da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e membro da Força-tarefa da universidade no Combate à Covid-19, Luiz Carlos Dias, relata que as queimadas no Pantanal, o desmatamento na Amazônia e a caça ilegal favorecem a incubação e o alastramento de doenças de origem animal como a do coronavírus:
“Vários vírus e bactérias vivem em equilíbrio nesse ecossistema que estamos destruindo, a tendência é que esses patógenos migrem para as áreas rurais, depois para zonas urbanas e os grandes centros servem como espalhadores. Esse é o risco que corremos, certamente pelo surgimento de outras zoonoses no futuro”, comenta.