Nova pandemia pode surgir por superbactérias em águas sem tratamento
Relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente alerta para possibilidade de nova pandemia surgir por superbactérias em águas sem tratamento, devido à poluição por antibióticos
Por Juliana Lima
Um novo relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) chama atenção para a ameaça de uma nova pandemia surgir devido à existência de superbactérias em águas sem tratamento. Isso porque os antibióticos consumidos em quase todo o mundo acabam sendo lançados no meio ambiente, o que pode fazer com que as bactérias se multipliquem e se tornem mais resistentes.
Segundo o relatório, a população global consumiu 34,8 bilhões de antibióticos por dia somente em 2015, e cerca de 90% desses medicamentos foram parar no meio ambiente como substâncias ativas. Além disso, os dados apontam que 80% da água do mundo não recebe tratamento adequado e, mesmo em países desenvolvidos, as instalações de tratamento são, muitas vezes, incapazes de filtrar bactérias perigosas.
O relatório menciona cinco grandes fontes do tipo de micro-organismos. A primeira é o saneamento precário, os esgotos e águas residuais. Depois, aparecem os efluentes da fabricação de produtos farmacêuticos, os resíduos de estabelecimentos de saúde, o uso de antimicrobianos e esterco na produção agrícola, e os resíduos gerados pelo processamento de animais.
Há ainda uma relação desta ameaça com as mudanças climáticas: a alta de temperaturas é associada a infecções resistentes a antimicrobianos. Em 2019, as infecções resistentes a antibióticos causaram a morte de quase 5 milhões de pessoas. O informe alerta que, sem ação imediata, essas infecções podem levar ao dobro desse total, anualmente, até 2050.
Entre as recomendações feitas pelo Pnuma estão o tratamento aprimorado de águas residuais e o uso mais direcionado de antibióticos, já que estes são usados, às vezes, sem necessidade. Outras medidas incluem melhorar os dados e o monitoramento dos remédios antimicrobianos e a forma como eles são descartados, a governança ambiental e os planos de ação para limitar a liberação de antimicrobianos no meio ambiente.
A chefe da Divisão Marinha e de Água Doce do Pnuma, Letícia Carvalho, lembra que os antibióticos e outras drogas salvam vidas, mas seu destino ambiental no curso das águas é importante. Segundo ela, é preciso cautela no uso desses medicamentos “para evitar a resistência antimicrobiana que representa riscos sociais, ambientais e financeiros para empresas e a sociedade”.
Fonte: ONU News