Países pobres: só 3 em cada 100 pessoas estão vacinadas contra a covid
No continente africano, apenas 7% das pessoas estão vacinadas, e países ricos têm doado menos vacinas do que o prometido. Como consequência, vírus continua se multiplicando rapidamente e sofrendo mutações
Apenas três em cada 100 pessoas foram completamente vacinadas contra a covid-19 nos países mais pobres do mundo, de acordo com a contagem da Universidade de Oxford, apesar de já existirem vacinas há quase um ano.
Na África, o número de vacinados é de 7%, embora haja países onde praticamente ninguém viu uma agulha, como Burundi (0,0025%), República Democrática do Congo (0,06%) e Chade (0,42%). A situação mundial é um barril de pólvora, também para os mais ricos.
O vírus não para de sofrer mutações, ao se multiplicar, de modo que cada paciente, com até um trilhão de vírus dentro do corpo, aumenta as chances de surgirem ao acaso versões mais contagiosas ou virulentas do patógeno.
Oficialmente, há mais de três milhões de infectados confirmados a cada semana, mas a Organização Mundial da Saúde (OMS) adverte que na África, com uma população muito jovem e em muitos casos assintomática e com meios de rastreamento deficientes, provavelmente se detecta apenas um em cada sete casos.
O virologista camaronês John Nkengasong fez um duro prognóstico em março. “A Europa está tentando vacinar 80% dos seus cidadãos [vacinou algo como 70%]. Os Estados Unidos querem vacinar toda a sua população [vacinaram 69%]. Acabarão a vacinação, imporão restrições às viagens e então a África se tornará o continente da covid-19”, profetizou Nkengasong, diretor dos Centros Africanos para Controle e Prevenção de Doenças, com sede na cidade etíope de Addis Abeba.
A União Europeia e os EUA anunciaram na sexta-feira o fechamento de suas fronteiras a voos procedentes do sul do continente africano após a detecção em Botsuana e na África do Sul da variante ômicron, uma nova versão do coronavírus com mais de 30 mutações muito preocupantes. Nkengasong acertou. O mundo se pôs em guarda. As Bolsas mundiais fecharam no vermelho.
A imunização no continente é dificultada por sistemas de saúde frágeis e uma logística deficiente para transportar os medicamentos em condições ideais. Mas grande parte do problema está no acúmulo de doses denunciado pela OMS por parte dos países desenvolvidos.
As grandes potências econômicas prometeram doar cerca de 2 bilhões de doses, por meio da iniciativa COVAX, um número insuficiente para vacinar 70% da população mundial com as duas injeções. Os EUA ofereceram 1,1 bilhão de doses, a UE 500 milhões; Reino Unido e China, 100 milhões cada, segundo uma análise do Conselho de Relações Exteriores, um laboratório de ideias norte-americano.
As promessas já são escassas e a realidade é cinco vezes mais insuficiente do que as promessas: apenas uma em cada cinco doses prometidas foi entregue, segundo os últimos dados, atualizados há um mês.
Fonte: El País