Para salvá-la dos abusos, foi preciso recorrer a sociedade protetora dos animais
Mary Ellen Wilson foi adotada de forma ilegal quando ainda era pequena e sofreu uma série de violências após a adoção. Como em 1874, ainda não havia entidades de proteção a crianças, uma missionária disposta a salvar a menina recorreu a uma entidade protetora dos animais
Em 1874, ainda não existiam entidades de proteção à criança. Mas existiam entidades de proteção aos animais. E durante anos foi assim nos Estados Unidos e em muitos outros países.
Foi recorrendo à Sociedade Americana de Prevenção a Crueldade Contra os Animais que a missionária Etta Angell Wheeler conseguiu salvar a vida de Mary Ellen Wilson, que sofria abusos diários dos pais adotivos.
Com dificuldades financeiras, os pais biológicos de Mary Ellen entregaram a menina ainda bebê a uma funcionaria da creche. Depois Mary Ellen, com quase dois anos, foi entregue ao Departamento de instituições de caridade de Nova York. O órgão, por sua vez, encontrou Thomas McCormack, um homem que dizia ser pai biológico da menina.
Casado com Mary Connolly, Thomas conseguiu a guarda de Mary Ellen em um processo ilegal, sem documentos ou recibos adequados. A única coisa que os McCormacks eram obrigados a fazer era apresentar anualmente um depoimento sobre os cuidados prestados a Mary Ellen. Apenas duas vezes eles fizeram isso.
Pouco tempo depois da adoção, Thomas McCormack morreu e a jovem menina ficou sob os cuidados de Mary Connolly. A viúva casou-se com Francis Connolly e mudou-se para um apartamento, com Mary Ellen.
Vizinhos passaram a ouvir gritos e reclamações de maus-tratos por parte da criança. Desesperados, os moradores pediram ajuda de Etta Angell Wheeler, uma missionária metodista. A mulher encontrou a pequena Mary Ellen coberta por hematomas, desnutrida e com claras evidências de negligência.
Aterrorizada pela situação, Etta começou a procurar por medidas legais que pudessem ser tomadas. Sem quaisquer órgãos que pudessem cuidar do caso, a missionária contatou Henry Bergh, um defensor do direito dos animais, criador da Sociedade Americana de Prevenção a Crueldade Contra os Animais. Alegando que Mary Ellen era humana, portanto um animal, e precisava de proteção e cuidados.
Com o testemunho dos vizinhos em mãos, Etta e Henry moveram um processo contra Mary Connolly, buscando salvar Mary Ellen das crueldades da mãe adotiva. Aos 10 anos, a menina foi tirada da casa onde morava e o julgamento começou.
O caso foi levado à Suprema Corte do Estado de Nova Iorque, em 1874. Em seu próprio testemunho, a menina confirmou que era espancada regularmente. A criança não era alimentada, era forçada a dormir no chão e ficava sozinha com frequência, além de ser proibida de sair de casa.
Na corte, Mary Ellen emocionou a todos quando disse não saber quantos anos tinha. “Mamma tinha o hábito de dar chicotadas e bater-me quase todos os dias”, narrou a menina. “Ela já me cortou com uma tesoura, não tenho lembrança de ter sido beijada por qualquer um. Ela nunca me acariciou ou me mimou.” Mary Ellen tinha apenas 10 anos na época.
Após o deprimente e cirúrgico testemunho da criança, Mary Connolly foi condenada a um ano de cárcere privado. Como resposta ao caso cruel, a Sociedade de Nova York para a Prevenção da Crueldade contra as Crianças — primeira do gênero — foi criada.
Com a condenação da mãe adotiva, Mary Ellen foi enviada para um lar juvenil e acabou sendo adotada por Etta Wheeler. Aos 24 anos, a jovem se casou, depois teve dois filhos e decidiu, em homenagem à sua própria história, adotar uma menina órfã. Mary Ellen morreu aos 92 anos, em 1956.
Fontes: Wikipédia e Aventuras na História
Débora Ariel Silveira de Farias
12/10/2020 @ 20:53
Gostaria de sugerir reportagens sobre o uso de imagens de menores de forma abusiva. Como a lei brasileira encara isso. E elogiar a coragem de publicar esse texto.
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27/04/2021 @ 18:51
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