Política: entenda as principais diferenças entre esquerda e direita
Com origem no século 18, os termos esquerda e direita ainda geram muitas dúvidas e debates
Por Caio Lencioni
Em época de eleições, é comum as pessoas conversarem sobre as propostas dos candidatos. Muitas dessas propostas têm seus fundamentos em ideologias alinhadas à esquerda, e outras à direita. A questão é que, hoje em dia, as características dessas vertentes são desconhecidas, o que gera dúvidas e até mesmo preconceitos entre os eleitores. Por isso decidimos explicar de forma resumida e simples as principais diferenças entre esquerda e direita.
De acordo com Elizabeth Balbachevsky, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP), os termos esquerda e direita tiveram origem na época da Revolução Francesa.
“Naquela época, havia na assembleia nacional os deputados que se sentavam à direita e uma parte à esquerda. De maneira geral, os deputados da esquerda formaram um grupo que deu origem aos Jacobinos e os da direita, um grupo que deu origem aos Girondinos”.
A doutora completa que os Jacobinos tinham ideias consideradas revolucionárias, como eliminar os privilégios do clero e da nobreza, assim como regulamentos que protegiam determinados setores da população francesa, entre outras questões. Já os Girondinos, de acordo com a especialista, eram mais cautelosos, mas também tinham ideias radicais. Eles defendiam o status-quo da sociedade francesa, assim como atividades econômicas sem a intervenção do governo.
“A sociedade francesa pré-revolução era marcada por um imenso número de pequenos privilégios. Ou seja, era um Estado grande inefetivo e que arrecadava recursos através de impostos, mas uma grande parte destes recursos era gasta em privilégios dos mais diferentes tipos”. Estes privilégios poderiam ser passados hereditariamente. Uma pensão dada pelo governo, por exemplo, poderia ser dada para o herdeiro de título nobre até o resto de sua vida.
“Você tinha situações como uma pessoa que havia sido nomeada cabeleireira da princesa que acabou de nascer, e que mesmo num cenário em que a princesa morresse antes de completar 2 anos de idade, a pessoa nomeada teria direito de receber uma pensão do governo até sua morte. Era uma sociedade carregada de pequenos e grandes privilégios”, explica.
Mais tarde, no século 19, os sindicatos e movimentos trabalhistas reivindicaram a identidade do pensamento atribuído à esquerda. Com isso, a direita ficou atribuída aos partidos considerados conservadores. “Essa ideia permanece até hoje. Enquanto a esquerda é ligada aos movimentos que supostamente teriam uma agenda mais popular, ou que combatam as desigualdades, a direita teria uma agenda mais conservadora, até mesmo no sentido próprio da palavra: preservar o status-quo dentro da sociedade.”
Mas e hoje em dia?
De acordo Paulo Silvino Ribeiro, mestre em sociologia pela Universidade Estadual Paulista (UNESP) e professor da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (FESPSP), é difícil fazer essa distinção hoje em dia. “Algumas pessoas podem ter posições progressistas, mas também ser conservadoras”.
Mesmo assim, o professor aponta que existem características que separam as duas ideologias. Enquanto a esquerda entende que a igualdade econômica viria a partir de ações do Estado, como uma possível distribuição de renda, a direita é mais conservadora na estrutura social econômica e acredita que essa igualdade poderia vir a acontecer através do conceito de meritocracia. “A meritocracia não é algo ruim. A questão é que o Brasil já vem de um passado escravocrata e até hoje se mostra um país desigual. Então, nessa lógica, a meritocracia é algo ruim, explica Ribeiro”.
O fascismo é de esquerda ou de direita?
O mestre em sociologia aponta que o fascismo e o nazismo não são exatamente nem de direita nem de esquerda, embora se coloquem predominantemente como movimentos conservadores, mostrando uma tendência de direita.
“Alguns exemplos que enxergamos no fascismo são o nacionalismo exacerbado, o não respeito a diversidades e justificativa do uso da força. Sabemos que existem exemplos extremos ligados à esquerda, como o socialismo de Josef Stalin, mas, historicamente, a esquerda é mais democrática”.